domingo, 26 de outubro de 2008

SOLUÇÃO DA PROVA N.º 8

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 8
O INSP. FIDALGO E A MORTE NA AJUDA

A vizinha esteve em permanente plantão e tomou nota de todos os movimentos em redor, pelo que não lhe poderia escapar qualquer aproximação de um estranho, nomeadamente no período em que o cão não esteve por lá, ou seja, entre as 14 e as 16, mais coisa, menos coisa, intervalo em que ela mesma assinala que o filho da vítima lá foi buscar e levar o cão.
Face às suas próprias afirmações, ninguém poderia entrar ou sair sem ela ver. Viu, inclusivamente, o Januário bater à porta e não obter resposta, deixando uma nota por baixo da porta.
Não havendo qualquer indício de coligação entre a vizinha, o Januário, ou o filho da vítima, o depoimento dela iliba completamente o visitante, apesar de ele também ter algumas lacunas no seu depoimento, nomeadamente ao afirmar não estranhar o cão não estar lá fora, no quintal, porque às vezes o metiam lá dentro, mas também não estranhar que ele não lhe ladrasse lá de dentro (se lá estivesse) quando bateu à porta, ou afirmar que a campainha não tocava, sem explicitar o porquê:
- Seria por saber que não havia corrente eléctrica?
- Ou seria por a campainha estar pendente, presa pelos fios e presumir que não funcionava?
- Ou ainda, seria por ter conhecimento de que ela nunca tocava?
Apesar dessas falhas, fosse ele mentiroso ou apenas distraído, isso não faz dele criminoso e, neste caso, sem qualquer oportunidade para cometer o crime, debaixo da vigilância cerrada da vizinha atenta.
O Januário está, pois, fora da lista dos suspeitos.
A vizinha curiosa é a suspeita seguinte.
Teve oportunidade e tempo bastante para cometer o crime.
Assistiu à partida do cão e logo aí teve a sua oportunidade. Poderia descer, bater à porta, esperar que o idoso lhe franquiasse o acesso e depois, por qualquer factor que não nos é dito, consumar o atentado contra a sua vida. Como não temos descrição da sua compleição física temos de aceitar essa probabilidade.
Só que o filho da vítima afirma que foi devolver o cão depois das 15.45 horas e entrou para dizer ao pai que o animal já lá estava e que não devia brincar com ele. Portanto, pela afirmação do filho, o pai estava vivo àquela hora.
Para poder cometer o crime após essa hora, outros obstáculos havia:
- Em primeiro lugar, o cão já lá estava, o que, não sendo um impedimento absoluto (não sabemos que relação tem essa vizinha com ele, até podia ser pacífica), certamente ele reagiria quando fosse para ela sair, porque qualquer cão detecta o mal feito aos seus donos.
- Em segundo lugar e isso é determinante, o filho da vítima afirma que deixou o pai a temperar uns bifes para o jantar, antes das 16.00 horas (hora a que refere já estar no emprego, certamente confirmado posteriormente), mas a descrição feita pelo Inspector Fidalgo depois das 20.00 horas indica que há dois bifes prontos para cozinhar, com lâminas de alho, sal grosso e aparas de folha de louro, o que é incompatível com tantas horas de exposição, sobretudo no que se refere ao sal grosso, que em contacto com a carne já não poderia ser visível. Ora, mesmo que a vizinha cometesse o crime apenas alguns minutos antes da chegada do filho da vítima e fosse ela a reforçar o sal nos bifes (embora esse acto não fizesse nenhum sentido), o tempo decorrido até à chegada do Inspector (o filho chega, vê o que se passa, chama a polícia, espera por ela, vai ajudar a agarrar o cão, espera pelo Inspector...) era mais que suficiente para que o sal desaparecesse de cima dos bifes.
Portanto, a hipótese da vizinha ser a responsável pelo crime cai por terra, também por não ser imaginável que um filho ao ver o pai morto inesperadamente e de forma violenta fosse, ele mesmo, preocupar-se com o tempero de uns bifes, minutos antes da chegada do Inspector.
A vizinha é, assim, completamente ilibada.
Afastada a hipótese de alguém exterior ter ido cometer o crime, pela vigilância da vizinha e de esta o cometer, restam-nos as hipóteses do suicídio, do acidente ou do homicídio cometido pelo filho.
Relativamente ao suicídio e ao acidente, a natureza e a localização do ferimento, bem como o instrumento agressor não são compatíveis.
O bastão tinha sangue e cabelos numa ponta, algumas crateras a meio, parecendo marcas dos dentes de cão. Aventou-se a hipótese de o sangue e cabelos poderem ser do ferimento do cão, mas nem ele entrou em casa nem o velho veio à rua depois do filho sair de manhã, como confirmam as várias fontes e por isso, em momento algum o bastão e o cão se cruzaram naquele dia. O próprio filho refere que entrou em casa apenas para dizer ao pai que o cão já lá estava e recomendar que não brincasse com ele e mais tarde diz que, ao chegar do trabalho, ficou alguns instantes com o Rex a ver se estava tudo bem e depois entrou… As marcas certamente eram dos dentes do cão, mas feitas anteriormente, nas brincadeiras que os vizinhos descrevem. O sangue e os cabelos foram provocados pelo ataque à vítima.
Para além de não existirem quaisquer indicadores de suicídio, a localização do ferimento, na zona da nuca, inviabiliza essa hipótese, tanto mais que o bastão aparece num canto da cozinha e não junto da mão da vítima. A hipótese de acidente padece dos mesmos constrangimentos. Não é crível que alguém bata acidentalmente contra um bastão num extremo de uma cozinha e vá cair de bruços a alguma distância. Poderia, isso sim, ter escorregado e caído com violência com a nuca sobre o bastão, mas nunca o corpo ficaria de bruços e muito menos o bastão a tal distância.
Resta-nos o homicídio, praticado pelo filho.
Ele é o único que tem a oportunidade e comete alguns deslizes comprometedores.
A casa tem abastecimento de água de um furo accionado electricamente. Se a corrente esteve interrompida, o motor não pôde funcionar. No caso, haveria um depósito com alguma capacidade porque o filho afirma que se zangou com o pai por este estar a regar o jardim (por isso esgotar a água do reservatório), ao ponto de ele só poder tomar um duche e nem para lavar os dentes sobrar!
A conclusão é de que não tinham ligação à rede pública (terão passado por muitas dificuldades há uns anos, como refere a vizinha), pois nesse caso não havendo água do furo, haveria da rede.
Com a água completamente esgotada (nem um simples copo para lavar os dentes), a pergunta a fazer é qual a origem da que se encontra dentro da panela que aguarda as batatas. O velho não veio mais à rua, o filho não levou nenhuma vasilha quando lá foi e a luz eléctrica só regressou após as 20 horas, ou seja mais ou menos pela altura em que o filho diz ter encontrado o pai morto. Portanto, apenas ele poderia ter enchido a panela, depois da luz regressar.
A mesma situação com o tempero dos bifes, que apenas foi feito naquele momento e já como encenação do que ia ser exibido à polícia.
Depois, apenas ao seu dono principal, digamos assim, o cão perdoaria ter feito mal ao seu outro dono, apesar de estar muito excitado, ao ponto de ter sido difícil prendê-lo com mais vigor para permitir a entrada da polícia.
A conclusão é, pois, óbvia: O filho eliminou o próprio pai.

22 comentários:

Anónimo disse...

Li a solução e fiquei com a certeza de que não abordei assim a solução. Houve coisas que nem mencionei porque me pareceram desnecessárias. Aquela de excluír o suicídio e o acidente, vai fazer perder pontos?
Seyl

Anónimo disse...

Se todos os quesitos que o Luís Pessoa indica na excelente solução que publica são para contar, não consigo os 10 pontos.
Sempre pensei que o principal era descobrir o criminoso e dizer as provas contra ele. Depoisde ler a solução do Insp. Fidalgo acho que andei muito tempo enganado. Quando ele dizia na secção que deviamos fazer um relatório e não uma solução, nunca entendi isso muito bem. Agora já entendo.
ParabénsLuís Pessoa pela solução e por este blog que nos vai ajudar muito.
Deco

26 de Outubro de 2008 14:44

Anónimo disse...

Eu já não me lembro em pormenor, do que mensionei na solução, como estava de férias enviei-a pelo correio e não fiquei com cópia. Como é lógico depois de vermos a solução, sabemos que não falamos deste ou daquele pormenor e vamos por certo ser penalizados por isso, mas eu não quero deixar de dizer, que os critérios de avaliação do LP, são muito mais rigorosos nas suas provas.
Se usasse do mesmo rigor nas provas de outros produtores, havia muitos mais "tombos".
Reconheço que têm que se destacar os melhores e esses vêm-se nestes pequenos pormenores, que nos passaram "debaixo do nariz" e nem demos por eles.
Arnes

26 de Outubro de 2008 15:56

Anónimo disse...

Não sei exactamente o que escrevi na minha solução, já estava de férias, enviei-a pelo correio e não fiquei com cópia, mas sei que também não segui o raciocinio do Insp. Fidalgo.
Reconheço que têm que ser "premiados" os melhores, mas na minha opinião, o LP tem critérios de avaliação muito mais rigorosos nas suas provas, do que nas dos outros produtores, a não ser assim os "tombos" eram muitos mais.

Arnes

26 de Outubro de 2008 16:17

luis pessoa disse...

Ora aqui está a primeira nota, com uma crítica concreta, neste caso ao diferente critério do orientador na classificação das provas, com mais rigor nas de sua autoria e menos nas dos outros produtores.
Aqui está, desde já, uma base concreta para discussão.
A Arnes, participante da Trofa, deu o pontapé de saída.
Quem quer comentar? Quem quer acrescentar alguma coisa?
Vamos a isso!?

Anónimo disse...

Parece-me normal que o Luís Pessoa se sinta mais à vontade e com mais rigor numa prova que é dele e que ele sabe como fabricou, do que nas dos outros. Mas não acredito que ele tenha dois pesos e duas medidas. Acho que não há desonestidade na classificação e por isso não concordo com Arnes.
Chico Máximo

Anónimo disse...

NÃO SEI SE O QUE A ARNES DIZ É VERDADE OU NÃO, MAS QUE OS PROBLEMAS DO I FIDALGO TÊM SEMPRE POUCOS ACERTANTES, É VERDADE. MAS TAMBÉM É VERDADE QUE OS SEUS PROBLEMAS SÃO MUITO DIFÍCEIS.
T ANTENOR

Anónimo disse...

Isto interessa a alguém? O Luís Pessoa vai continuar a classificar como quiser e nós a fazermos as asneiras. O que eu queria era ver aqui dicas para melhorarmos as nossas soluções. Gosto muito do Policiário e gostava de saber mais.
A solução do Inspector Fidalgo está muito boa e nem me passava pela cabeça que uma investigação fosse assim. Eu sempre parti logo para o crimiqnoso edepois fui à procura dos pormenores.
Obrigado
Arbélio

Anónimo disse...

Penso que a solução do Luís Pessoa é muito completa e muito correcta.
Parabéns pelo problema e obrigada pela solução. Os autores têm muito a mania de fazerem soluções muito simples e mal desenvolvidas.
Quanto á questão dos diferentes critérios, não tenho opinião, mas confio completamente no Luís Pessoa.

Rita - Estoril

Anónimo disse...

Em primeiro, quero deixar uma resposta ao Chico Máximo, que diz:
"Acho que não há desonestidade na classificação e por isso não concordo com Arnes."
O não concordar comigo, está no seu direito, mas eu não falei nem pensei em desonestidade, porque a acreditar que a houvesse nem concorria. Dou-lhe um exemplo que daquilo que queria dizer.
Na época 2006/2007 o Peter Pan escreveu uma prova chamada " Guarda-me a ultima dança" em que na sua solução que era muito fraquinha, afirmava que a rapariga do colar de conchas não era a mesma que do colar de flores. Este pormenor não tinha lógica nenhuma, mas era um pormenor da solução do autor. A ser avaliado acredito, que à excepção do PP ninguém mais tinha 10 pontos.
Quanto à solução da prova nº8, eu falhei em pormenores que vão ser penalizados e bem ( o caso do sal e da água na panela), mas há outros que eu acho discutíveis.
1-Não fala na solução do pormenor do cão (segundo as palavras do filho) ter sido operado e eu acho que era um dos fundamentos para sabermos que ele era mentiroso e estava a esconder algo. Segundo alguém entendido no assunto, um cão daquele tamanho não podia ser operado a um quisto, ter feito o recobro da anestesia e voltado pelo seu pé a casa, isto só em duas horas. Também não tinha lógica nenhuma que o animal tenha sido preso com uma corrente logo de seguida.
2- A posição do morto não nos é dita na prova, se estava longe ou perto do canto onde estava o bastão, só sabemos que estava de bruços.
3- O caso do depósito da água. Acho um pouco forçada, mas aceito, agora a explicação... O homem tinha tido problemas de dinheiro, mas não nos podemos esquecer que vivia numa casa de construção para habitação social que à partida não teria um furo e ficaria muito, mas muito mais caro fazé-lo do que fazer a ligação à rede publica. Aliás não sei como é em Lisboa,mas aqui no "jovem" conselho da Trofa, a partir do momento que foi criada a rede de abastecimento de água, podíamos não fazer consumo, mas tinhamos que fazer a requisição do contador.
4º- Transfoma em verdadeiras as afirmações do filho no caso de não ter água para lavar os dentes, mas em todo o resto diz que mente.

Isto é o resultado de uma breve e rápida análise, é a minha opinião e como tal, vale o que vale.

Arnes

Anónimo disse...

Anónimo disse...
Eu planeei a minha solução de outra maneira:
Começo sempre as soluções concentrando-me na hora da morte. Só assim posso colocar os suspeitos na cena do crime e confirmar (ou desmontar) os seus álibis. Como neste problema ela não era fornecida, tentei obtê-la através de elementos textuais, fornecidos pela polícia ou pelo narrador (os únicos em que confio sem reserva).
Cheguei à conclusão de que a morte só poderia ter ocorrido de manhã, antes de o filho ter saído para o trabalho. Baseei-me em:
- Provado o corte de abastecimento de água ao local, mandaria a lógica que o pai (se estivesse vivo) tivesse de ir buscar água a algum lado, até para combater o intenso calor que se fazia sentir naquele dia. Não foi encontrado qualquer recipiente (nem um simples garrafão de mercearia) no local!
- Se (como o filho diz)o cão fosse operado naquele dia, o pai não deixaria de o ir acarinhar, "desejando" boa sorte.
- E (muito importante) não faz sentido o pai estar a preparar o jantar SEM TER ALMOÇADO! Não acreditamos que o pai tivesse estado sem comer nada, desde o nascer do dia até à hora de jantar! Para comer qualquer coisa (fruta, conserva ...), teria de ter utilizado um prato, um garfo, uma faca, um copo ... Se não podia lavar a loiça (por não haver nenhuma água em casa) essa loiça suja teria de ser encontrada na banca! Não há qualquer registo.
Confirmo, assim, as palavras da vizinha (que ele não saiu de casa)e, implicitamente, ilibo as outras duas personagens. Não perdi tempo com a vizinha (por considerar verdadeiros os seus relatos), que considerei uma personagem informante, colocada no texto para nos dar pistas que nos ajudassem a chegar à verdade (ou a confirmar a nossa ideia). Para mim, não passa da "cusca do bairro"!
Já quanto ao vizinho, ilibei-o como o autor, até porque "precisava" dele para me fornecer mais uma mentira do filho. Se ele foi a casa da vítima, só pode ter ido quando o cão lá não estava (atacava-o, se estivesse na rua; ladraria, quando bateu à porta, se estivesse em casa). O importante é que ele deixou um bilhete. SE o filho (como diz) tivesse entrado em casa para falar com o pai,quando trouxe o cão, teria logo dado com o bilhete e não apenas à noite, quando chegou (é ele quem o afirma)!
Nem acreditei na operação do cão. Achei que o passeio foi apenas um álibi. Entre outros erros, ressalta o facto de que o cão (se tivesse sido operado) deveria ter a área da intervenção rapada e cosida. Nada disso lá está. Também não acreditei que um cão, a recuperar de uma operação, com anestesia, tivesse a força que mostrou, ao enfrentar os polícias. E, ao ser amarrado,debatendo-se, rebentaria os pontos, o que daria ao pescoço um aspecto lastimável (muito longe do descrito)!
A água na panela e o sal grosso (ainda visível) mostram que o cenário foi preparado poucos minutos antes da chegada da polícia, após a reposição do abastecimento.
Muito mais disse, mas este foi o guião da minha solução!
Zé-Viseu

27 de Outubro de 2008 16:32

luis pessoa disse...

Ora muito bem!
Estamos a aproximar-nos daquilo que esperamos poder vir a ser este nosso espaço.
Depois do pontapé de saída dado pela Arnes, do contributo do Chico Máximo e das considerações do Zé-Viseu, ficamos com uma certeza: Jamais um produtor conseguirá elaborar uma solução sem mácula!
Os decifradores explorarão, sempre, mais um caminho, encontrarão sempre mais pormenores que o autor não imaginou! A solução do Zé-Viseu é prova disso mesmo, apontando novas e interessantes pistas.
Gostaríamos de poder contar com mais e mais contributos, mas mesmo assim já dá para pensarmos numa lógica diferente:
Porque não abrir a discussão dos problemas aos confrades, antes da publicação da solução oficial?
Passado o prazo para envio das propostas de solução e com o "controle" já encerrado, vamos escolher algumas soluções ou extractos delas e publicá-las aqui, deixando-as à discussão pública.
Dessa forma, será possível, cremos, encontrar os diversos caminhos, obter as diversas opiniões.
Só depois publicaremos a solução oficial que, à luz da discussão encetada, deverá ser convenientemente comentada e criticada.

Anónimo disse...

Este comentário já é do dia 26, mas, talvez por imperícia minha, não entrou.
Bom, eu venho dizer que o relatório do Insp. Fidalgo tem algumas falhas imperdoáveis. Aceita que a vizinha bisbilhoteira podia ter uma visão completa das portas e janelas da vivenda do Sr. Morais, isto a partir do local onde ela estava e durante muitas horas. A bisbilhoteira, apesar de o ter dito, nunca veria mais do que dois lados da casa do vizinho em simultâneo e não se aguentaria diversas horas sempre vigilante.
O Insp. Fidalgo também diz que o bastão aparece num canto da cozinha e não junto da mão da vítima. Como assim? Pelo enunciado do problema só sabemos que a vítima estava estendida de bruços. Uma das suas mãos podia encontra-se perto do canto, tanto mais que a cozinha era pequena. (Também tem de se ter em conta que uma pessoa abalada por uma pancada pode ainda dar alguns passos antes de cair)
Sobre o que se passou com o Rex há várias perguntas sem resposta. Não cabe aqui desenvolver o assunto. Só para exemplo, custa a aceitar que o filho do Sr. Morais tivesse prendido o cão, operado ao pescoço algumas horas antes, enrolando-lhe uma corrente à volta do pescoço. Em princípio o bicho viria com o colete que permitisse prendê-lo e mesmo a habitual coleira não seria tão agressiva como a corrente.
Parecem descabidas as considerações sobre certas explicações que o Sr. Januário não deu. Passa pela cabeça de alguém que uma pessoa que declara que foi bater a uma porta, porque uma campainha não funcionava, falhe pelo facto de não explicar, naquele momento e adicionalmente, por que razão não funcionava a campainha?
Nove

luis pessoa disse...

Já com algumas notas para responder e sem pretender que seja uma defesa do autor aos ataques que lhe são desferidos, eis algumas considerações:
Quanto aos pontos que a Arnes cita:
1.º O cão. Ele é parte integrante da história. Não tendo sido referido nada sobre a natureza e gravidade do que foi feito ao cão, não nos parece que a solução devesse reflectir algo sobre isso. Aceito que pudesse ser mais explícito e que talvez por essa via pudéssemos aprofundar a veia mentirosa do filho, mas atenção, ser mentiroso não é ser criminoso. E ele não é acusado tanto pela mentira, mas sim pelos deslizes que comete e pela razão.
2.º A posição do morto. A descrição não é estática. Há uma dinâmica… Corpo de bruços… bifes na bancada… mais adiante algumas batatas… num dos cantos da cozinha…
Parece-me, francamente, que foi dada alguma dinâmica de movimento à descrição do Inspector Fidalgo, capaz de colocar alguma distância.
3.º Depósito da água. Tudo naquela casa tresandava a passado muito distante, tudo era ferrugem e velharia. Certamente que o furo era antigo e não parece lógico questionar os custos da sua construção. A vizinha diz apenas que tiveram algumas dificuldades e por isso a sugestão de terem largado a água da companhia. De qualquer forma, se é lógico ou ilógico, o furo está lá! Não vamos agora pretender tapá-lo.
4.º Não é dito que o filho mente em tudo menos na questão do copo. Refere-se o copo de água para lavar os dentes, o que é plausível para a sua própria história. Que interesse tinha ele em dizer que deixou lá montes de água no depósito ou onde quer que fosse?
Só para nos dizer que afinal não tinha que ser ele a encher a panela ao fim da tarde? Mas então, qual era o interesse de inventar que não tinha água para lavar os dentes? Essa sim, seria uma mentira sem sentido.
Sobre as considerações do Nove:
Se nada nos é dito sobre a casa, nem sobre a posição da vizinha, parece abusivo que se argumente que ela não podeia ter um controle sobre as janelas e portas da casa e muito menos que não aguentaria muitas horas no seu posto de vigília.
Sobre a posição da vítima na cozinha, já referimos acima.
Sobre o cão, idem, para além de reforçar que só para o prender melhor para a entrada da polícia a pressão sobre o cão aumentou, por ser inevitável.
Quanto ao Januário, uma investigação destina-se a investigar e se alguém que pretendemos avaliar nos diz que foi bater à porta porque a campaínha não funciona, é básico que tentemos saber porque é que afirma isso: Porque sabia? Porque lhe disseram? Porque viu os fios pendurados e deduziu (então não podia dizer com certeza que não funcionava)?
Com relação aos comentários do Zé-Viseu, muito bem apontado o pormenor do papel deixado pelo Januário, muito embora pudessenão ter sido notado da vez que lá foi quavdo deixou o cão. Mas é excelentemente apontado.
Já quanto ao jantar versus almoço, embora a questão seja muito bem observada, carecia de maior pormenorização. O velhote poderia não almoçar, beber uns iogurtes ou leite, etc., não sabemos, mas é excelente o apontamento.

Anónimo disse...

Luís Pessoa:
A Arnes fala a propósito de um problema do Peter Pan, que eu achei bom, com uma solução má, mas não me parece bem que tivesse chamado para aqui esse problema. Se ele era tão mau, devia ter sido o orientador (Luís Pessoa) a não o publicar ou obrigar a uma alteração da solução.
Não gostei do modo como o Nove comentou a solução do Inspector Fidalgo, com uns ares de superioridade que não percebo. Diz ele que não passa pela cabeça de ninguém que se pergunte ao Januário porque é que bateu à porta da casa e não tocou à campaínha. Ele nunca deve ter feito uma investigação, mas eu que sou alguém, falei disso e interroguei até se ele já lá teria ido antes para saber que a campaínha não tocava. Eu concorro sozinho, não fui ainda a almoços nem convívios e tenho alguma dificuldade às vezes em perceber as pessoas que são ultrapassadas mas aparecem lodo a seguir com desculpas e a falar de cima do ombro.
Muitos parabéns ao Luís Pessoa por este novo local para podermos falar e trocar ideias. Obrigado.

Deco

luis pessoa disse...

Sem querer meter-me excessivamente, peço aos comentadores que evitem diálogos mais "acalorados".
Estamos a falar da nossa actividade de lazer e por isso não há razão para criarmos situações menos felizes.
Vamos continuar a ler opiniões e a comentá-las sempre que tivermos algo para dizer.
Este tem que ser um espaço de abertura, de discussão franca, pois só assim valerá o nosso esforço.
Obrigado.

luis pessoa disse...

Reproduz-se aqui o comentário do confrade Nove que foi feito noutra mensagem, porque cremos terá melhor cabimento aqui. Mantemo-lo também, no entanto, no mesmo local em que o autor o colocou.
LP

Caro Luís Pessoa:
Entendamo-nos.
1) Foi a vizinha que afirmou que ninguém podia entrar ou sair daquela casa (a do Sr. Morais) sem que ela notasse, isto para um período que ia desde a saída do filho, de manhã, até cerca das 20h00. No enunciado não foi confirmada a veracidade deste depoimento. Isto bastava para que ele não pudesse ser utilizado, na solução, da forma taxativa como o foi. Creio não haver aqui dúvidas.
Acresce que é inverosímil que alguém, postado numa janela de uma habitação de um bairro social, possa ver, em simultâneo, todos os lados de uma vivenda vizinha e aguente fazê-lo, sem sair do seu posto, por mais de dez horas.
Ora o meu amigo limitou-se a dizer ser abusivo eu falar da inverosimilhança e nada disse sobre o facto de não se poder tomar como indiscutível a afirmação da vizinha. O certo é que na solução a afirmação foi considerada indiscutível, quando o não podia ser, e nem se quis atender ao carácter incrível da tarefa que a vizinha disse ter cumprido.
2) Quanto à declaração do Sr. Januário, mantenho que não lhe pode ser atribuída falha. Não lhe cabia explicar por que é que a campainha não funcionava. Ele limitou-se a dizer que foi bater à porta porque constatou que a campainha não trabalhava. Ao investigador é que cabia procurar descobrir alguma brecha para testar a veracidade do depoimento, nomeadamente fazendo perguntas adicionais ao Sr. Januário. Ora, não há no enunciado sinais explícitos nem implícitos dessas perguntas. Portanto, os considerandos colocados na solução respeitam a questões que o investigador poria e que não sabemos se pôs ou não pôs, ou seja, respeitam, quando muito, a omissões na parte da investigação que nos foi dada conhecer e não a falhas do Sr. Januário.
Não trataria hoje de qualquer outro ponto.
Desejo no entanto dizer ao nosso confrade Deco que lhe reconheço todo o direito de não gostar da maneira como me expresso e de discordar do que digo, mas deverá apresentar argumentos e não aquilo que, peço-lhe desculpa se exagero, me pareceram ser meras e desagradáveis insinuações.
Nove

luis pessoa disse...

Meus caros Amigos:
Este espaço é para ser utilizado por quem o pretender, mas sujeito a regras de boa convivência.
Por esse motivo está accionada a moderação, o que implica que nada poderá ser publicado sem o aval do orientador.
Eatá completamente fora dos nossos horizontes qualquer actividade de censura, excepto nos casos de abuso de linguagem, quer quanto ao uso de vocabulário, quer quanto a qualquer ofensa contra quem quer que seja.
Nessa conformidade, apelamos aos confrades no sentido de reduzirem as suas intervenções aos assuntos que estão em discussão, não entrando em diálogos crispados e, muito menos, ofensivos.

A pronta réplica do confrade DECO, minutos após o comentário do confrade NOVE pouco acrescenta à discussão, pelo que nos dispensamos de a publicar.

Obrigado a todos.
LP

Anónimo disse...

Não estou de acordo com a decisão que tomou o Luís Pessoa, porque não ofendi ninguém e se o fiz, peço desculpa, mas aceito a decisão.
O que eu quiz referir sobre o comentário do Nove é que o pior cego é aquele que não quer ver.
Peço desculpa.
Deco

Anónimo disse...

Sem querer atiçar o fogo, eu achei que o colega Arnes não devia ter chamado para aqui o problema do Peter Pan, de que eu gostei bastante e que fazia homenagem ao Dic Roland.
Acho que foi de mau gosto porque já era um assunto antigo.
Zzz - Beja

luis pessoa disse...

Atenção aos autores de 4 comentários, que não se identificaram: Como já referimos, apenas serão publicados os comentários que venham com indicação, no mínimo, do pseudónimo que utilizam no nosso passatempo. Em circunstância alguma publicaremos comentários anónimos.

Anónimo disse...

PONTO PRÉVIO.

Neste ponto prévio, pretendo deixar claro que esta minha explanação de algumas ideias se irá dividir em dois pontos principais, relacionados com os últimos “posts” disponíveis no blogue Crime Público. E, para que cada coisa fique no seu devido lugar, a primeira parte é colocada em “Solução da Prova nº 8” e a segunda em “Ditadura dos Orientadores?”. Posto isto, vamos ao que interessa:

PARTE I

Não tem sido meu hábito, particularmente nos últimos anos, reler as soluções que envio. Precisamente por esta razão, não reli a solução que apresentei à Prova nº 8 (embora a tenha bem guardada, como todas as outras). Como sempre, leio com muita atenção a solução ao Autor e procuro lembrar-me se, na solução por mim enviada, foquei ou não (de uma forma mais ou menos clara) todos os aspectos mencionados. Regra geral, esta minha comparação mental resulta positiva. No caso em apreço, a solução da Prova nº 8, pelo que me lembro, julgo que foquei (mais uma vez, de uma forma mais ou menos clara) os aspectos identificados pelo Autor.
Todavia, neste problema, tal como em muitos outros, apontei pormenores, na minha opinião, muito importantes (caso contrário, não apareceriam na minha proposta de solução) e capazes de contribuir para a apresentação de uma melhor solução e de me fazerem chegar àquela que me parecia ser, enquanto decifrador, a solução proposta pelo Autor. Talvez seja por esta razão que o meu pseudónimo aparece com relativa frequência no grupo das melhores.
Não me sinto minimamente prejudicado pelo facto de o Orientador da secção atribuir os mesmos pontos a uma solução por mim apresentada, nos termos acima focados, e a uma outra que se centre apenas no que é considerado essencial. E isto porque há algo que para mim é, sem sombra de dúvida, o mais importante neste passatempo: o prazer de, perante o desafio, o esmiuçar até ao mais ínfimo pormenor (até onde as minhas capacidades intelectuais o permitem) e produzir um texto de qualidade capaz de expressar o meu raciocínio.
Reconheço ao Orientador da secção, pela sua experiência de muitos anos no Policiário, nomeadamente nos últimos 16 anos, a competência e a idoneidade para avaliar as soluções que lhe são apresentadas. Estou seguro das dificuldades inerentes à classificação de soluções, até pela experiência recente do torneio dedicado ao Sete de Espadas.
Parece-me claro que o Autor de um problema (em que a sua principal preocupação até pode ser esconder a chave que conduz à solução, embora não tenha necessariamente que o ser), no momento em que elabora a sua solução, não tem o distanciamento suficiente para produzir aquilo que poderia designar-se por uma solução “à prova de bala”. Daí que um decifrador, desconhecendo exactamente o que o Autor pretende, vai procurar todos os pormenores que, no seu entender, o levam ao resultado pretendido. Este mesmo decifrador, sempre insatisfeito, poderá encontrar elementos que tanto podem contrariar a tese do Autor, como a pode reforçar (mas que não aparecem na solução proposta pelo Autor). É precisamente este segundo ponto, o reforço da solução do Autor (o primeiro não é relevante de momento), que pretendo abordar na:

PARTE II

(ver comentário no “post” “Ditadura dos Orientadores?”)

DANIEL FALCÃO