segunda-feira, 25 de maio de 2009

SOLUÇÃO

CAMPEONATO NACIONAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 7
DE REGRESSO AO PASSADO…
Original de: Daniel Falcão

Este problema é dedicado ao povo poveiro e à Povoa de Varzim, onde durante vários anos, passei o mês de Setembro, antes do regresso às aulas – cidade magnífica, pela sua praia, pelo seu mar, onde é sempre agradável voltar. E a sombra do Guarda-Sol (o meu café) continua à minha espera, entrando pelo areal dentro.
Já quanto ao resto, como facilmente perceberam, foi imaginado para instigar as vossas células cinzentas e aproveitado para divulgar as marcas que são a escrita do povo poveiro, que as lê com a mesma facilidade com que nós procedemos à leitura do alfabeto. Estas marcas são como que brasões de família que vão passando de pais para filhos.
Mas, afinal, quem foi o assassino? Domingos “Turra”, Luís “Chichão” ou Gustavo “Piloto”?
O Gustavo “Piloto” chegou, entrou, viu e saiu para chamar as autoridades.
O Luís “Chichão” chegou, entrou, viu e ficou aguardando a chegada das autoridades.
O Domingos “Turra” mentiu quando disse que não estivera no escritório e voltara a mentir quando disse que não entrara no escritório. E porquê?
Precisamente porque, por um lado, se ele lá tivesse ido bater à porta antes da agressão, esta seria aberta, como foi aberta para o agressor. Por outro, se ele lá tivesse ido depois da agressão, não precisava bater, pois a porta fora encontrada encostada. Duas hipóteses são possíveis. Na primeira hipótese, foi o Domingos “Turra” quem assassinou e roubou. Na segunda hipótese (a porta encostada) devemos admitir duas possibilidades, ou seja, o Domingos “Turra” viu o cenário macabro e foi-se embora sem avisar as autoridades ou entrou e assaltou o escritório.
O esbanjamento presenciado na tasca mostra que ele tinha bastante dinheiro, o qual até poderia ser proveniente de duas fontes possíveis: das massas que ganhara no dia anterior, cuja origem as autoridades iriam averiguar; ou do assalto ao escritório.
Primeiro a mentira (negou ter estado no escritório), depois o esbanjamento (o dinheiro não lhe custou a ganhar) e por fim a mancha na camisola que parecia ser de sangue, colocam o Domingos “Turra” como principal suspeito.
E os rabiscos encontrados sobre a secretária o que significavam?
O Santos conhecia muito bem aquelas marcas. Identificavam as famílias poveiras e eram herdadas de geração em geração. Mas aquela em especial era muito estranha. O primeiro símbolo era um meio arpão com cruz no rabo, já o segundo símbolo pareciam ser duas cruzes sobrepostas: uma em forma de “+”, outra em forma de “×”. Ora, Santos desconhecia que aquele símbolo fosse utilizado por alguma família poveira, pois parecia uma estrela, mas não era uma estrela, pois o traço horizontal estava a mais.
Foi então que se fez luz. As marcas encontradas foram falsificadas.
A marca formada por um meio arpão com cruz no rabo seguido de uma cruz em forma de “+” é o “brasão” da família poveira dos Chichões. A vítima queria apontar alguém da família dos Chichões. (Nota. Não confundir as cruzes, “+” e “×”, sobrepostas com o símbolo da estrela, já que o meio arpão com cruz no rabo seguido de uma estrela é o símbolo dos Turras.)
Como se costuma dizer: o criminoso volta sempre ao local do crime; e assim foi mais uma vez. Luís “Chichão”, acompanhado por Gustavo “Piloto”, entrou no escritório, aproximou-se do corpo e viu… a folha em cima da mesa com as marcas que o incriminavam. Possivelmente, teria dita ao Gustavo para chamar as autoridades, enquanto ele ficava a vigiar o local do crime. Já sozinho, teria tido a tentação de destruir a folha. Contudo, como não sabia se o amigo também teria reparado na folha e talvez salientasse depois o seu desaparecimento junto das autoridades, arriscou escrever uma nova cruz em forma de “×”, sobre a existente. Talvez o amigo tivesse visto o papel com os rabiscos, mas não tivesse memorizado o que lá estava.
Para finalizar, o Luís “Chichão” teria cometido o homicídio, por razões que viriam a ser apuradas, e o Domingos “Turra” assaltara o escritório, quando lá fora e deparara com aquela oportunidade para limpar as gavetas. Contrariamente ao Luís “Chichão”, o Domingos “Turra” não tivera oportunidade para falsificar a marca. Fora assim que a camisola ficara manchada de sangue e que ele conseguira o dinheiro que estava a esbanjar na tasca. Refira-se ainda que seria possível a folha branca não conter sangue, considerando que o telefone foi tocado com a mão do braço ferido, enquanto a marca podia ter sido escrita com a mão direita.
NOTA FINAL. Para recolha de elementos sobre esta simbologia poveira, consultar “O Poveiro” de António Santos Graça ou pesquisar na Internet pelas palavras-chave ‘marcas’, ‘balizas’ e ‘divisas’. A imagem seguinte, útil para conhecer os símbolos utilizados, está disponível na Wikipédia, por exemplo, quando se pesquisa “Cultura da Póvoa de Varzim”.


DANIEL FALCÃO

2 comentários:

Anónimo disse...

Foi com certa admração que reparei que este problema não tinha merecido qualquer comentário dos habituais comentadores emquanto os problemas 3 e 5 foram exautivamente comentados.
Será que um problema quando é bom não merece uma palavra de louvor. Melhor será que quando um problema não tem uma fraqueza por onde possa ser atacado não merece um comentário nem que seja pera dizer apenas que foi um problema bom.
Não estou dizendo que os problemas 3 e 5 tenham sido maus, eles apenas pecaram por ter deixado algum ponto um pouco vulnerável por onde todos os comentadores, salvo algumas excepçõs, os atacaram levando a que os seus autores já tivesse afirmado o propósito de não voltarem a escrever.
Seria bom que aqueles que comentam, antes de o fazerem, lessem bem os enunciados e as respectivas soluções para depois emitirem as suas opiniões tendo em vista darem algum valor a este espaço. Um valor positivo já se vê.
Aos autores que já manifestaram o propósito de não voltarem a escrever apenas quero dizer que não liguem importâncias aos que falam apenas por falar e que não demonstraram ainda que são capazes de fazer melhor.
Por isso meus amigos, não desistam de escrever e ao Daniel os meus parabéns pelo seu excelente problema bem como a todos os outros autores que até agora viram os seus trabalhos publicados.
A todos o meu abraço

Rip Kirby
Não estou dizendo

Anónimo disse...

Tem o amigo Rip toda a razão...
Dei os parabéns, pessoalmente, ao Daniel e não o fiz aqui.
Um problema que tem como protagonistas os homens do mar, do mar que eu adoro e dos pescadores que eu admiro...
Um problema que cheirava a maresia. Foi um prazer resolvê-lo.
Segundo ponto:
Haverá gente por aí que diga que não produz mais? Era boa, essa! Tenho um remo de um barco mesmo a jeito para resolver esse assunto. E já tem várias marcas (não poveiras) no punho...
Tal tá a moenga, hem!!!!
Isto é um ameaça...
Abraços
Zé-Viseu