sábado, 17 de outubro de 2009

TORNEIO A. RAPOSO

Caríssimos, cá está o caso n.º 3 do Torneio de Homenagem ao nosso querido Amigo e confrade de muitas décadas A. RAPOSO, que continua a sua luta encarniçada contra as maleitas que lhe couberam em sorte.
Esperávamos poder abraçá-lo em Santarém, dentro de algumas horas, mas uma recaída obrigou-o a trabalhos e tratamentos redobrados.
Assim, ficou ADIADO o encontro e o abraço pessoal. Apenas ADIADO!



TORNEIO A. RAPOSO E TROFÉU CLUBE DE DETECTIVES:
Problema nº 3 - A MORTE DO GÉMEO FARIA, de Inspector Boavida:

O subchefe Pinguinhas aproveitou a calma que reinava na esquadra para se deliciar naquela manhã com um jesuíta na pastelaria Suíça. No regresso, avistou, no largo de São Domingos, um dos gémeos Faria, que caminhava em direcção a casa, vindo do lado dos Restauradores. Ele não tinha memória de conhecer duas pessoas tão parecidas e, ao mesmo tempo, tão distintas. O Pedro e o Paulo eram fisicamente iguais, mas tinham comportamentos e opções de vida díspares. O primeiro gozava da fama de viver de expedientes, acumulando processos judiciais por crimes de falsificação e de abuso de confiança, que ameaçavam levá-lo à cadeia. O segundo era considerado um dos mais promissores artistas plásticos da sua geração.
Pedro era um pinga-amor. Teve inúmeras e sucessivas namoradas, envolveu-se com várias mulheres ao mesmo tempo, ficou noivo quatro vezes e declarou-se apaixonado outras tantas vezes. Este enredo amoroso valera-lhe, desde muito novo, o título de plano boy. Ainda adolescente, enamorou-se de uma trintona loira que morava nas imediações da escola e depressa abandonou os estudos para sempre. Após o liceu, nem faculdade nem trabalho. A sua vida tinha sido sempre e só mulheres: hoje uma, amanhã outra… ou outras! Ultimamente corriam rumores de que andava envolvido com a mulher de um amigo do norte, sem que isso lhe merecesse qualquer preocupação, ou não fosse ele um homem insensível e sem escrúpulos.
Paulo, ao contrário do irmão, era incapaz de contribuir para o sofrimento de quem quer que fosse. A sua extrema sensibilidade, aliada a uma simpatia inata, era reconhecida por todos os que privavam com ele. Nos seus contactos, em qualquer circunstância, mesmo nos momentos menos alegres ou mais infelizes, tinha sempre um sorriso nos lábios. Era exactamente isto, e o modo de vestir, que o distinguia do irmão aos olhos dos outros. Os seus dias começavam cedo, quase de madrugada, e eram feitos de intenso trabalho e de permanente estudo. Era tão grande a dedicação à sua arte que quase não lhe sobrava tempo para mais nada, a não ser para participar em tertúlias de amigos ou em reuniões a favor de causas humanitárias.
O subchefe entrou na esquadra com estes pensamentos na cabeça e quase estremeceu com a notícia recebida à chegada. O guarda Raposo havia atendido um telefonema há breves instantes, onde se dava conta de um acontecimento dramático em casa dos gémeos Faria: um deles fora encontrado morto! O Pinguinhas não perdeu tempo. Telefonou para a Judiciária e deslocou-se de seguida até à casa dos gémeos. O irmão da vítima recebeu-o com semblante pesado e algumas lágrimas: «Obrigado por ter vindo. Quando dei conta que o meu irmão estava morto, não soube o que fazer e resolvi ligar para a esquadra. Ainda me custa a crer no que aconteceu. Quando o deixei, ele estava bem e felicíssimo com o seu novo amor».
O morto estava recostado num sofá. No chão, caído a seus pés, um caderno formato A3, alguns lápis de cera e correspondência diversa. Sobre uma mesinha, permanecia um copo meio de água. Ao lado do cadáver estava poisada uma missiva datada da véspera, onde se podia ler: «Pedro. Conforme combinado por telefone, junto envio a carta que farás o favor de enviar daí para a minha mulher porque só assim a conseguirei convencer de que estou em Lisboa. O sobrescrito está selado e endereçado, mas vai aberto para que confirmes que não estás a pactuar com nada de grave. Estou apenas a tentar salvar o meu casamento. Obrigado. Nuno. PS – na próxima semana deixo o Algarve e volto para Gaia; passa lá por casa».
A pedido do subchefe, o gémeo contou tudo o que se tinha passado naquela manhã. «Acordei com os guinchos da Lili Jardim, que estava na cama com o meu irmão. Eram nove horas. Não aguentei o barulho e fui tomar o pequeno-almoço ao Café do Chico. Quando regressei encontrei o carteiro, que me passou a correspondência. Ao subir as escadas, cruzei-me com o corno do vizinho da cave. No primeiro piso, vi ainda a gorda Gertrudes de pescoço espetado a cuscar o que se passava no andar de cima. E quando cheguei ao último lance das escadas, vi a Lili que se preparava para sair. Estive pouco tempo em casa. O meu irmão pediu-me que fosse meter uma carta no correio. Fui até aos Restauradores e quando voltei encontrei-o morto».
Envenenado – foi o veredicto da PJ. O relatório médico-legal concluíra que o gémeo morrera com uma pequeníssima dose de arsénio. O copo de água presente no local do crime não continha sinais do veneno. Em lado algum foram encontrados vestígios de arsénio e o cadáver não fora mexido. O inspector Gustavo, que dirigia as investigações, ouviu o irmão da vítima e chamou à sua presença a Lili Jardim, o carteiro da zona e os vizinhos dos gémeos. Antes, porém, ordenou ao seu ajudante Falcão que fizesse uma diligência nas proximidades; fez dois telefonemas breves e… horas depois deu o caso por resolvido, assegurando que não se estava apenas perante um crime de homicídio, o que causou grande espanto e perplexidade em Pinguinhas.
Exceptuando os telefonemas do Gustavo e algumas conversas trocadas em surdina entre este e os seus homens, o subchefe ouviu tudo o que se disse durante a investigação. Nos depoimentos, Lili confirmou ter estado até de manhã com Pedro, que vivia uma fase feliz, cruzando-se à saída com Paulo; o carteiro afirmou ter entregado naquela manhã a correspondência ao «gémeo das t-shirts»; o homem que mora na cave e a vizinha Gertrudes disseram ter visto o «gémeo bonzinho», por volta das dez. Nada disto parecia contribuir para o esclarecimento do caso, mas Pinguinhas tinha a sensação de que algo lhe escapava, sobretudo quando olhava para os dois gémeos. Mas o que seria? E o que terá acontecido de facto em casa dos irmãos Faria?

Respostas, até 5/11/09 para d.cabral@sapo.pt e gustavobarosa@hotmail.com

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