segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

POLICIÁRIO 969

Publicamos hoje a parte II da Prova n.º 2 do Campeonato Nacional, numa proposta de Madvet:

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 2 – PARTE II
O CASO DE JOSITA CORLI – Original de MEDVET

Numa manhã de segunda-feira, 8 de Julho, o leiteiro que chegara ao nº 99 da Rua dos Plátanos ficou surpreendido por notara a luz acesa, apesar de já serem sete horas e o sol ir alto. Talvez fosse apenas a curiosidade que o fez espreitar pela janela, atravessando um canteiro de flores recentemente cavado, mas mais tarde disse ter sentido um estranho pressentimento. O leiteiro espreitou através de um pequeno espaço deixado entre as cortinas corridas. Ao princípio mal distinguiu um vulto de mulher esparramado numa cadeira, mas depois conseguiu ver a sua face - uma máscara de sangue.
Por um momento o leiteiro ficou paralisado, mas depois, com um grito abafado de terror correu rua abaixo, onde felizmente tropeçou com um polícia que fazia a sua ronda, a quem contou a macabra descoberta.
Voltaram os dois para o 99 e tentaram entrar pela porta da frente, que estava fechada à chave. Entretanto o leiteiro explicava ao polícia quem eram os habitantes da casa. Tratava-se de uma mãe com duas filhas, estrangeiras, apesar de falarem muito bem o português. O leiteiro sabia que a mãe e uma das filhas estiveram fora durante o fim-de-semana, porque na sexta-feira anterior lhe pediram para deixar apenas meio litro de leite no sábado e no domingo em vez do habitual litro e meio, uma vez que a Senhora Corli e a sua filha Dolores estariam fora até segunda-feira.
Uma vez que a porta da frente estava fechada, tentaram a das traseiras, que também estava fechada. O polícia decidiu entrar por uma janela entreaberta na cave. A figura na sala da frente era de facto a filha, Josita. Tinha um revólver na mão direita e o cano descansava contra o que fora a mandíbula; de facto, praticamente toda a metade inferior da cara fora atingida pela descarga e não era um espectáculo agradável.
O polícia não perdeu tempo a notificar a esquadra e em breve o Inspector Fagundes apareceu no local. A opinião geral era a de que se tratava de suicídio, mas Fagundes encontrou pequenos pormenores que lhe pareceu prudente esclarecer.
A Senhora Corli e a sua filha Dolores chegaram por volta do meio-dia e ficaram horrorizadas com a notícia. Quando acalmaram o suficiente, Fagundes inquiriu se haveria algum motivo para Josita se matar. Não havia nenhum, que elas soubessem; era uma rapariga de temperamento variável e por vezes instável, mas nos últimos tempos parecia ter assentado, graças a um rapaz com quem parecia ter uma relação amorosa muito intensa, chamado Ramon Perita.
Sob pressão, no entanto, Dolores admitiu que Josita em mais de uma ocasião, durante um dos seus acessos de fúria, havia ameaçado matar-se, mas ninguém dera muita atenção ao assunto. A mãe atribuíra isso a uma manifestação de mau génio que não durava mais de cinco minutos. Na verdade Josita sempre acabava por ficar lavada em lágrimas e pedia desculpa por ser tão tortuosa.
Quando Fagundes interrogou Ramon Perita, o namorado da vítima, este pareceu assombrado quando lhe deram a notícia. Quando ele a deixara na noite anterior, ela parecera-lhe bem, no seu habitual bom humor. Não era verdade que Josita estava sempre a ter ataques de fúria. Um pouco leviana, fazendo olhinhos de vez em quando a outros homens, nada de importante. Isso já tinha acabado, Josita tinha-lhe prometido deixar de olhar para outros homens.
No sábado anterior tinham combinado ir ao cinema, mas ela não aparecera. No domingo à noite fora a casa ver se tinha acontecido alguma coisa e ela contara-lhe que não se sentira bem e tinha ido para a cama cedo. Não lhe mandara recado porque não tinha modo de o fazer. Ela parecera-lhe bem no domingo á noite e devia estar a sentir-se melhor. Tanto quanto sabia, não havia nada de especial no seu espírito, nem podia imaginar uma razão para ela se matar. Deixara-a por volta das dez e ela foi com ele até à porta, combinando encontrar-se com ele na terça seguinte à noite.
O homem estava mesmo transtornado, mas as suas palavras soavam verdadeiras. Pesquisas na vizinhança confirmaram o seu depoimento até certo ponto. Uma das vizinhas ouvira um som por volta das onze, mas parecera-lhe o escape de um carro. Aos domingos à noite a Rua dos Plátanos tinha muito movimento. De resto, nos últimos tempos tinha havido vários assaltos nas vizinhanças e todos estavam um pouco em sobressalto - mas não deu muita importância, até porque o som lhe parecera abafado e não ouvira mais nada.
Josita era muito apreciada na vizinhança, especialmente pelos homens, porque era muito bonita e sabia-o. Usava a sua beleza para estontear os homens; o seu único defeito era apreciá-los demais. Ainda no sábado anterior a vizinha a vira de braço dado com um jovem. A senhora estava à entrada da casa, a tomar o fresco antes de se deitar. Vira o par aproximar-se, parar à porta da rapariga e ouvira-a despedir-se com um “Boa noite, Francisco; ver-nos-emos em breve.”
A vizinha estranhou, pois era suposto Josita andar com um tal senhor Perita; pensava que o seu nome era Ramon, já a ouvira tratá-lo por Ray.
Segundo o relatório da autópsia, a moça estaria morta cerca de sete a oito horas antes da descoberta do corpo, ou seja, a morte dera-se entre as onze e a meia-noite. Talvez mesmo às onze, se o ruído ouvido pela vizinha fora um tiro.
O homem visto no sábado com a vítima foi encontrado sem dificuldade. A mãe da vítima lembrara-se de um tal Francisco Peres com quem a filha andava antes de se decidir por Perita. As suas declarações eram simples. Encontrara Josita por acaso nessa tarde e ela dissera-lhe que ia ter com o namorado para irem ao cinema, mas após alguma insistência ele convenceu-a a ir dar um passeio com ele em vez de se encontrar com Perita. Passaram a maior parte do tempo num abrigo do parque. Ela pareceu-lhe preocupada e mais tarde confidenciou-lhe a causa. Hesitava entre ele e Perita. Ela gostava do namorado, mas ele podia ser fatigante por vezes. Ela gostaria que ele de vez em quando mostrasse alguns ciúmes, mas para além de se queixar quando ela falava de outros homens, ele não mostrava nenhum sinal de emoção. Ela achava que ele gostaria mais dela se de vez em quando se zangasse. Estava a pressioná-la para casarem em breve. Segundo Peres, ela dissera que “ se sentia tão mal com esta indecisão que por vezes pensava em acabar com tudo”. Peres riu-se dela e conseguiu distraí-la dessa ideia, mas agora achava que as palavras tinham um sentido mais sinistro do que julgara.
O revólver era de um tipo vulgar do exército, havendo muitas maneiras de a rapariga o ter arranjado. Nem havia maneira de traçar a sua origem com alguma certeza. Nem a mãe nem a irmã sabiam que Josita tinha uma arma - mas isso nada provava.
Dêem uma ajudinha ao Inspector antes que fique completamente “passado”…
A- Foi suicídio;
B- Foi Ramon Perita;
C- Foi Francisco Peres;
D- Foram a mãe e a irmã.
E pronto!
Agora é tempo dos nossos “detectives” se debruçarem sobre este problema, que vai ficar disponível no blogue CRIME PÚBLICO e no sítio CLUBE DE DETECTIVES e depois enviarem as propostas de solução, impreterivelmente até ao próximo dia 28 de Fevereiro, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!

COLUNA DO “C”

FALTAM 30 SEMANAS PARA A EDIÇÃO 1000
A época 2002/2003 deu início ao figurino que a secção passou a adoptar, até aos dias de hoje, com o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal como provas principais no campo da decifração e com a atribuição dos troféus de Policiarista do Ano e de N.º 1 do Ranking.
Nesta época, foram de novo batidos recordes de presenças e a competição foi bastante dura e apenas resolvida por questões de pormenores, como convém para manter índices elevados de emoção, apesar da publicação de um problema que causou furor, de autoria do confrade M. Constantino, o grande mestre da produção: “Do Esqueleto da Dedução ao Esclarecimento do Delito”.
Só na época seguinte, 2003/2004 foi introduzido um novo título de campeão nacional, para a modalidade de produção de problemas policiários, conferindo, assim, justiça ao labor dos artífices dos enigmas.

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