segunda-feira, 8 de novembro de 2010

POLICIÁRIO 1007

AINDA O DRAMA DE LECY ONARA


O problema da prova n.º 8, de autoria de Cardílio & Avita, causou uma troca de ideias excelente, entre o autor e o confrade Zé, que não queremos deixar passar em claro, por encerrar algumas notas importantes para a discussão futura de alguns problemas e deixar dicas para os confrades menos experientes.

Ora tomem atenção à primeira parte desta troca de argumentos:



Meu caro autor:

Responda-me, por favor, às seguintes questões:

Por que razão foi detido Musk, em Paris, na Sexta-feira, 13, à noite? Pela morte da Lecy, não, pois a polícia só teve conhecimento do seu desaparecimento na Terça-feira seguinte e da sua morte na quarta (da semana seguinte)!

Não é admissível que a polícia detenha alguém por um crime que nem ela nem ninguém sabiam que tinha sido cometido (a não ser o autor)!

- Musk, em Paris, exibe uma carta de suicídio (dactilografada) assinada por Lecy. Quem a escreveu? Quando a recebeu? Outro exemplar da carta apareceu próximo do corpo. Como chegou às mãos de quem a lá colocou. O criminoso? Mas ele só contactou com a Lecy na Sexta ao fim da tarde e o Musk já ia em viagem... Como chegou essa carta às mãos de quem a colocou próximo do corpo? Isto era fundamental para a minha solução...

Parece-lhe lógico que, indo Tó e Namet todos os dias (ou frequentemente) ao café do Zé Galão lanchar (está no texto), o Namet, estando tantos dias fora, não tenho ido com Tó ao café nem o tenha contactado, na Segunda ou na Terça? Não me pareceu lógico.

Como se explica que o Namet, tendo chegado na Segunda (e vendo a casa como estava) só tenha participado o desaparecimento da mulher na Terça? Por que ligou logo para a Polícia e não tentou saber dela na Escola ou junto de amigos comuns? Não está, no texto, qualquer um desses contactos. Por isso, eu disse que me parecia que o Namet sabia demasiado.

Peço desculpa pelas questões, mas foi com base nestas dúvidas que fiz a minha solução. E não vejo resposta a elas na solução oficial.

Vá lá... Acertei no criminoso e na hora da morte...

No resto, não sei, pois as minhas questões não foram respondidas na solução oficial.

Muito obrigado pelo problema! Sinceramente! Passei dezenas de horas a estudar as evoluções das larvas e a recolher e a documentar o seu aparecimento num organismo morto. Fiquei muito mais rico. Aprendi muito! Objectivo da solução cumprido.

Grande abraço



Caríssimo Confrade Zé:

Como prometido, aqui me tem a comentar as suas questões e digo comentar porque, como pretende uma resposta para elas na solução e o problema não permitem ser conclusivo a seu respeito, não posso desfazer as dúvidas que o "atormentam".

Como sabemos, na vida real como na ficção, quando há uma morte por explicar, a investigação criminal tem como principais objectivos elucidar "o que se passou", "por que razão, isso aconteceu" e "quem terá sido o responsável por tal", objectivos estes que são habitualmente apresentados sob a forma de perguntas. Para se resolver um problema, é necessário recolher a informação, organizar e interpretar as evidências físicas e os factos que determinam os limites daquilo que efectivamente se passou, comparar com o que dizem as testemunhas e participantes, aplicando metodologias aceites e princípios científicos bem provados, e aplicar o raciocínio crítico para se chegar a uma conclusão.

Em geral um investigador esforça-se por determinar quem, o quê, quando, onde, como e porquê, os "famosos" 5W dos ingleses, mas nem sempre é possível encontrar resposta para tudo. Basta estar atento aos media para perceber que, muitas vezes, só ficamos a saber verdadeiramente o que se passou e quais as motivações subjacentes aos actos depois da confissão do criminoso.

Em "Lecy Onara", temos um caso destes, no qual faltam elementos para uma resposta cabal a alguns deste W, como é o caso, entre outros, das questões que o Confrade levantou.

Para se construir o texto "Lecy Onara", teve-se presente a máxima atribuída a Sherlock Holmes:

"It is an old maxim of mine that when you exclude the impossible, what ever remains, however improbable, must be the truth".

Por isso, preconizamos como solução que "A personagem da história Lecy Onara foi vítima de um crime e o agente que o perpetrou foi a personagem Tó Trinete", como fundamentamos no texto publicado neste Blog.

Julgamos que, em termos de discussão, não se pode ir mais longe do que foram os autores no texto referido para fundamentar esta solução, mas estamos perfeitamente preparados para aceitar uma solução mais conseguida, se a acuidade de outros Confrades a vier a encontrar, não falando do Orientador, pois este já detém a liberdade de poder aceitar outras soluções. Além disso, enquanto autores, é nosso entendimento que o modo, como os concorrentes chegam à solução, os fundamentos que apresentam, os seus argumentos, o estilo literário que utilizam, etc., são assuntos que cabem exclusivamente na jurisdição do Orientador.

Como sabemos, avaliar é comparar. Se o problema suporta uma solução suficientemente fechada, podemos considerar que avaliar será medir até que ponto a resposta do concorrente se afasta da resposta certa, mas as questões formuladas em torno do problema, a relevância das respectivas hipóteses e as conclusões apresentadas pelos concorrentes nas suas respostas dependem da argúcia e capacidade de argumentação de cada um, pelo que não podem ser comparadas em relação a um estereótipo determinado e têm de ser medidas por comparação entre as respostas dos concorrentes, o que também cabe inteiramente ao Orientador fazer. É por isso que consideramos que as perguntas que o Confrade Zé nos dirigiu, por um lado, devem ser avaliadas no contexto em que foram inseridas na sua resposta e, por outro, só o Orientador pode esclarecer até que ponto as considerou certas ou erradas.

Por isso, quero ressalvar que vou tomar estas questões tal como o Confrade Zé as colocou, fora do contexto, e sobre elas fazer os meus comentários, como prometido.

1ª Questão

-Por que razão foi detido Musk, em Paris, na Sexta-feira, 13, à noite?

1ª Resposta

Não sabemos por que razão foi detido Musk em Paris, na Sexta-feira, 13, ao princípio da noite. As notas do narrador não esclarecem nem dão pistas que permitam uma conclusão fundamentada sobre esta questão.

1º Comentário Zé

Pela morte da Lecy, não (foi detido Musk), pois a polícia só teve conhecimento do seu desaparecimento na Terça-feira seguinte e da sua morte na quarta (da semana seguinte)!

1º Comentário Autor

De acordo, face aos factos descritos nas notas do narrador.



COLUNA DO “C”


A PRÓXIMA ÉPOCA

Muitos confrades vão interrogando sobre o que vai ser a nova época competitiva, agora que está prestes a terminar a de 2010.

Pois bem, estamos a trabalhar no assunto e a procurar as melhores opções para que a próxima época seja superior à actual.

Muito em breve, vamos abrir espaço à discussão no nosso blogue CRIME PÚBLICO, que está acessível em http://blogs.publico.pt/policiario, onde esperamos a participação de todos os confrades interessados num Policiário cada vez mais próximo do gosto da maioria dos “detectives”.

O modelo deverá ser muito aproximado daquele que vimos seguindo, ou vamos encetar uma “revolução” que quebre com as rotinas que parecem estar instaladas?

Na primeira época após o Milénio da nossa secção, estamos prontos para procurarmos outros objectivos, com as ideias de todos, para tentarmos colocar o Policiário num patamar cada vez mais alto.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sobre a "Morte de Lecy Onara" o único comentário que me ocorre é que o assunto já está tão esturricado como o almoço das duas vizinhas que no problema trocavam comentários sobre o que tinha acontecido.
Há quem se queixe de estar já saturado dos moldes em que têm corrido os torneios nos últimos anos. Será que ainda não estão saturados do 8º problema deste ano?
Um abraço do
Rip Kirby

luis pessoa disse...

Caro Rip, o escrito publicado destina-se aos confrades, ainda muitos, que não usam a internet e não acedem a este blogue.
Por vezes há repetições de temas e assuntos, mas a base, o corpo do Policiário é a secção no jornal, onde todos podem ir e não aqui onde só vai quem usa a net. E acredite que ainda é uma minoria.
Abraço

Anónimo disse...

Meu caro

Por aquilo que me diz sou obrigado a concordar com aqueles que dizem que no policiarismo, a maioria não passamos todos de uns velhos caquéticos. Claro que há algumas excepções mas numa época em que qualquer fedelho de 10 ou 12 anos tem um computador sou obrigado a concluir os policiaristas ainda não possuidores de computador só são aqueles que há muito se esqueceram de quando fizeram 50 anos
Um abraço do
Rip Kirby