domingo, 5 de junho de 2011

POLICIÁRIO 1037

Iniciamos a segunda parte das nossas competições desta época. Vencidos os primeiros cinco duplos desafios, damos o tiro de partida para a fase mais dura e difícil, pelo menos em teoria.

É usual no nosso Policiário que os problemas sejam progressivamente mais complexos, de forma que seja a última prova a resolver, mantendo, assim, uma indecisão até ao fim. Nem sempre assim acontece e há casos de torneios de grande valia que ficaram decididos nas primeiras provas, mercê de problemas bem arquitectados, de relativa facilidade numa primeira apreciação, mas que depois se revelaram decisórios.

O problema de hoje é de autoria de um dos melhores produtores nacionais, Rip Kirby e, por isso, transporta uma garantia de qualidade inquestionável e constitui razão mais que suficiente para que os nossos “detectives” tenham as devidas cautelas, aumentando o grau de alerta, para que não haja surpresas desagradáveis.

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 6 – PARTE I
“O Massacre Na Quinta da Alegria” – Original de Rip Kirby

A Quinta da Alegria constituída por um terreno de 30.000m2 no centro do qual há um palacete construído no séc. XIX. A propriedade é cercada por um muro de 2m de altura, caiado, encimado por três filas de arame farpado. Na face confinante com a E.N., há um portão junto do qual uma guarita onde 3 guardas fazem serviço revezando-se de 4 em 4 horas. Da casa ao muro há um jardim e serpenteando entre os canteiros o caminho que vai até ao portão.

O palacete pertence a Andréia Niemeyer, italiano de origem judaica estabelecido em Portugal, de parceria com Norberto Castro, com uma empresa de construção naval.

55% do capital pertence a Castro e a Niemeyer 40%. Os restantes 5%, cedidos por Norberto, foram divididos igualmente por 5 engenheiros da empresa. Agora esses engenheiros querem que a percentagem suba para 2%. Niemeyer aceita essa reivindicação, mas entende que essa percentagem deve ser retirada da cota de Norberto Castro ao que este não acede. Diz, que já fez a parte dele, agora é a vez do italiano.

Naquele Domingo, na Quinta, realizava-se um almoço para o qual foram convidados todos os sócios da empresa. Como o almoço decorreu, não sabemos. Por volta das 17 horas um telefonema na PJ levou o Insp. Trindade e a sua equipa para o local.

Chegado à Quinta, o Inspector foi levado para a sala de jantar no centro da qual há uma mesa onde apenas estavam presentes os cálices onde foram servidos os antidigestivos.

Nas laterais da mesa cinco corpos, três de um lado e dois no outro, tombados sobre esta. Todos tinham recebido um tiro na nuca e, em todos, a trajectória da bala fora semelhante. Entrara na nuca e subira ligeiramente para o alto da cabeça. Os bordos das feridas, que haviam sangrado pouco, apresentavam-se queimados e com resíduos de pólvora.

Sobre a mesa, à direita dos corpos, estavam as cápsulas das balas que os atingira. Um pouco afastado da mesa, estendido no solo com o peito para cima, estava o corpo do mordomo, identificado pelo empregado que acompanhava o Insp. Atingido no estômago sofreu grande hemorragia como indicava o sangue ao seu redor. A cápsula da bala que o matou encontrava-se bastante distante, e desviada para a sua esquerda. Não havia sinais de queimado nem de pólvora no ferimento.

Junto da porta, de comunicação com a sala ao lado, outro corpo, que o empregado afirmou ser o dono da casa, deitado de bruços com a cabeça perto da porta, parecia ter sido atingido quando tentava fugir do local. Perto, um pouco à frete do corpo desviada para a sua esquerda estava a cápsula da bala que o atingira. O inspector viu que ainda respirava pelo que o virou podendo assim verificar que recebera o tiro um pouco abaixo da clavícula esquerda tendo a bala seguido uma trajectória ligeiramente ascendente e em diagonal da direita para a esquerda saindo um pouco acima da espádua. Na sua camisa branca ensopada notava-se o tecido queimado e os resíduos de pólvora concentrados em volta do buraco.

O empregado que acompanhava o Inspector disse que após o almoço o patrão havia dispensado todos os empregados recomendando que fossem divertir-se na piscina e que voltassem às 17 horas e encarregou o mordomo de ir servir umas bebidas quando fossem 15 horas o que este fez não tendo voltado. Um pouco antes das 17 como a casa ficava um pouco distante abandonaram a piscina e quando chegaram depararam com aquele espectáculo. Todos confirmaram e afirmaram ter estado sempre juntos.

Depois de tratado Niemeyer disse qual o motivo daquele almoço para o qual tinham sido convidados todos os sócios da empresa, discutir a pretensão dos engenheiros, mas que Norberto Castro não comparecera como havia prometido. Cerca das 15 horas, um pouco depois das bebidas servidas, entrou na sala um estranho, de estatura elevada, mascarado que começou a atirar sobre os presentes.

Interrogados os guardas, o que esteve de serviço entre as 12 horas e as 16, um jovem baixo atarracado, afirmou que todos os convidados tinham entrado na propriedade. À pergunta que lhe foi feita respondeu que o Sr. Castro tinha entrado cerca das 14h, mas acrescentou que não o vira. O carro tinha os vidros escuros e ele só viu o motorista que voltou a sair pouco depois. Acrescentou que todos os convidados chegaram conduzindo os seus próprios carros e que ninguém mais entrara nem saíra enquanto esteve de serviço. O colega que o rendeu afirmou que de no seu turno ninguém se ausentara da propriedade.

No dia seguinte em Aveiro onde morava Norberto, quando interrogado, olhou o Inspector do alto dos seus 2m de altura e disse: que se deslocara a Lisboa devido a compromisso de última hora pelo que não pudera assistir à reunião. Apresentou os talões das portagens que pagou na viagem e um bilhete para a seção de domingo num teatro da capital. Esse bilhete, para além da data impressa, tinha o autógrafo de Rui Mendes, que era um dos actores que participara na peça a que ele assistira, com a data manuscrita. Afirmou que havia mandado um dos seus motoristas à Quinta para justificar a sua ausência. Não se lembrava de qual o motorista que encarregara desse serviço e, quando interrogados, todos os motoristas se esquivaram a admitir que tivessem ido à Quinta.

No relatório do médico era dito que, excluindo o mordomo, todas as vítimas tomaram, depois do almoço, uma poderosa dose de um sonífero, certamente adicionado às bebidas que beberam, tendo todos eles morrido durante o sono. A morte dos convidados fora instantânea e deveria ter ocorrido entre as 15:45 e as 16:30 com ligeiros intervalos entre si. A morte do mordomo teria ocorrido depois de uma agonia de certo modo prolongada, no intervalo de tempo indicado para os outros, cerca de 30m depois de atingido. Pela quantidade de sangue derramado o médico calculou que o dono da casa foi atingido minutos antes dos criados terem dado pelo massacre.

No chão, a meia distância entre Andréia e o corpo do mordomo, encontrava-se a arma que servira para a matança, sem impressões digitais e uma luva branca da mão direita, um tanto suja. Pensou-se que a luva fosse do mordomo mas este tinha as suas duas calçadas.

Nenhum dos cálices que se encontrava sobre a mesa tinha qualquer vestígio da bebida que fora servida nem impressões digitais. Apenas se via um pouco de água no fundo de todos eles. No muro não foi detectado qualquer estrago.

E é tudo, cabe agora aos nossos detectives descobrir o que ali se passou e apresentar um relatório circunstanciado sobre as conclusões a que chegaram.





COLUNA DO “C”

Depois das leituras necessárias, com a precaução reforçada pelo reconhecimento de qualidade do autor, como é manifestamente o caso de Rip Kirby, os “detectives”, devem enviar as propostas de solução, impreterivelmente até ao próximo dia 30 de Junho, para o que poderão usar um dos seguintes meios:

- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.

Boas deduções!

1 comentário:

Anónimo disse...

"O Miguel disse que verificara a porta à meia-noite. Continuava fechada à chave. Desde que me substituíra ficara ao fundo do corredor. Perto das 4 horas houvera uma falha de corrente eléctrica e ele ouvira o disjuntor do quadro eléctrico, no piso inferior, disparar. Descera às escuras, não demorara mais de um minuto, e quando voltou viu surgir o Miguel, vindo de cima, do seu quarto, pelas escadas ao fundo do corredor, junto à porta do quarto. Viu-o verificar que a porta estava fechada e depois deixara-o sentado no sofá."
Não há aqui uma gralha? O Miguel vê que o Miguel chega?
Não será Jacinto em vez de Miguel?

Deco