quarta-feira, 22 de agosto de 2012

JARTURICE OU... JARTURADA - 53 (PARTE II)



A H P P P
ARQUIVO HISTÓRICO DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA 

                                                                        
 Publicado na secção POLICIÁRIO em: 22.Agosto.1992


TÉCNICA POLICIÁRIA AO ALCANCE DE TODOS
                 Na semana passada demos algumas “dicas” e recebemos respostas positivas, incentivando-nos a prosseguir.
                 Pois bem, cá vão mais alguns pormenores fáceis e passíveis de serem utilizados na solução de casos e, consequentemente na feitura de alguns problemas. Mas, se o fizerem, não esqueçam que os pormenores técnicos em si não produzem um bom problema. É necessário que se lhes junte uma boa “roupagem” e um bom caso, com dedução que conduza à tal solução técnica. Inventem uma história onde haja mistério, necessidade de se deduzir algo e por fim um bom pormenor técnico e terão, seguramente, um bom problema. Vamos tentar? Por agora vamos falar de:



HOMICÍDIO, SUICÍDIO OU ACIDENTE?
            Já na semana passada falámos da importância para uma investigação de saber calcular e determinar todas as condições em que ocorreu uma morte. Vamos ver:
Enforcamento: É a morte ocasionada pelo aperto de um laço no pescoço, aperto esse feito pelo peso do próprio corpo. São duas as causas da morte: primária e secundária. A primária é a falta de circulação sanguínea para o cérebro; a secundária é a falta de passagem de ar para os pulmões.
Os sinais mais observados são:
- Sulco em volta do pescoço;
- Espuma na boca e nas narinas;
- Hemorragia nasal e auricular;
- Língua projectada para fora da boca;
- Existência de livores de hipóstase (a partir do momento em que se quebra a unidade funcional do organismo há a tendência de acompanhamento das leis da gravidade. Assim, o sangue é abandonado nas veias pela ausência da força motriz do coração, tende a depositar-se nas partes mais baixas do corpo, e forma umas manchas roxas a que se chamam os livores de hipóstase. O tempo do seu estabelecimento vai de 4 a 12 horas).
- Ejaculação de esperma (excepto nos casos em que houver fractura na coluna vertebral ao ser largado o corpo);
- Sinais de traumatismo sobretudo nas zonas do pescoço;
- Coloração do corpo azulada ou mesmo lívida.
Os factores para determinação de homicídio ou suicídio, já que o acidente é muito improvável, são:
A análise do cabo que serviu para o enforcamento. O suicida nunca se preocupa com o cabo que vai usar, uma corda qualquer, um fio eléctrico, um cinto, uma gravata, um fio plástico, tudo serve. O homicida, por outro lado, nada

improvisador, tem um certo ritual e aplica-se com requinte à sua tarefa.
Um suicida faz um nó de qualquer maneira, com muitas voltas e voltinhas, mas quase sempre eficaz. O homicida estuda o nó cientificamente, com as voltas indispensáveis, ficando seguro e sendo fácil de desatar (pormenor importante).
Um suicida protege muitas vezes o pescoço com um lenço ou um pano qualquer, para tentar aliviar a dor. Se tem de morrer, que não seja no máximo de sofrimento. Um homicida não se preocupa com tal coisa.
Também o estudo das fibras da trave ou do ramo onde a vítima foi suspensa é fundamental. Se foi içada (portanto havendo homicídio), as marcas na madeira estarão orientadas para cima no lado da vítima e para baixo no lado do assassino que puxou a corda. No caso de suicídio, em que a vítima se abandona de cima duma cadeira ou mesa, por exemplo, as marcas das fibras estarão dos dois lados da trave para o mesmo lado, isto é, para baixo.
Asfixia: É a morte provocada pelo dióxido de carbono ou outros gases tóxicos, por via de intoxicação. É quase sempre acidental ou suicida e muito pouco provável a sua utilização para perpetrar um homicídio, a não ser em condições muito especiais – a vítima estar diminuída fisicamente ou privada dos sentidos e o homicida pretender simular suicídio (muita atenção a este aspecto!)
                Os sinais externos são:
- Lábios de um vermelho vivo;
- Faces rosadas;
- Livores avermelhados.
Os casos mais vulgares são os causados por fugas de gás usado nas cozinhas, bem como um incorrecto arejamento, quando se usam as vulgares fogueiras a lenha. Numa garagem com um carro a trabalhar e sem arejamento, pode-se atingir a asfixia. Este tipo de morte, muito frequente acidentalmente, ocorre pouco nos casos de suicídio e é praticamente nula como homicídio, a não ser quando associada a outras acções para diminuição das capacidades da vítima.
E por hoje chega. Logo que possível cá estaremos com mais umas “dicas”. E já agora, fiquem-se com esta:
Sabiam que é possível calcular a altura de um indivíduo a partir da sua pegada?
Ora fixem e façam a experiência. Fórmula de Parville:
 E=2xP -0,05
  0,287
Em que E é a estatura do indivíduo e P o comprimento da pegada. Se o pé é descalço, é só aplicar a fórmula. Se estiver calçado há que abater ao resultado dois a três cm se usar ténis, três a quatro cm se for sapato normal, quatro a cinco se tiver sola de borracha ou se for bota simples.
                                                                          

 ADITAMENTO ao publicado na secção POLICIÁRIO em: 22.Agosto.1992


TÉCNICA POLICIÁRIA AO ALCANCE DE TODOS
           
Na secção deste dia -  retratada nas duas folhas que antecederam e deram motivo a esta – ocorreu uma gralha que nos faz ligar a “máquina do tempo”, avançando para a futura secção que será publicada em 29 de Agosto (próximo futuro), onde “O inspector Fidalgo desfaz equívocos”.
         Vejamos, então, antecipadamente, o texto que o inspector Fidalgo escreverá… na próxima semana…




A TÉCNICA POLICIÁRIA

 Publicado na secção POLICIÁRIO em: 29.Agosto.1992


         Falámos na semana passada das pegadas, um pouco a fugir, e a fórmula ressentiu-se disso, não ficando de todo em todo entendível. A fórmula de Parville joga com o comprimento da marca deixada no local, corrigida conforme o tipo de calçado que se usa, o que é normal.

                   A fórmula correcta é:
                   E = (2xP) /0,287 = 0,05

         O “E” traduz a estatura ou altura do indivíduo, e o “P” é o comprimento da pegada.

         Um exemplo: Um indivíduo, deixou uma marca de sapato de borracha com 29,5cm. O cálculo da estatura, será:

         E = [2 x (0,295-0,04*) /0,287] – 0,05  < = >
         E = (2 x 0,255) /0,287 – 0,05 < = >
         E = (0,51/0,287) – 0,05 < = >
         E = 1,77 – 0,05 < = >
         E = 1,72metros
         (* Para um desconto de 4 centímetros, por se tratar de sapato de borracha.)

         Ou então, no caso de 5 centímetros* de abatimento:

         E = [2x (0,295 – 0,05*) /0,287] – 0,05 =
[(2x0,245)/0,287] – 0,05 = (0,49/0,287) – 0,05 =
1,70 – 0,05 = 1,65 metros.

         Portanto, a estatura seria compreendida entre 1,65 e 1,72 metros, o que já poderia conduzir a um melhor enquadramento do criminoso entre os suspeitos. De notar que se o indivíduo estiver descalço, a altura será praticamente exacta, sem a variação que no nosso exemplo existe.

         E posto isto, toca a treinar!
                          Inspector Fidalgo
                                         

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