quinta-feira, 15 de novembro de 2012

JARTURICE OU...JARTURADA - X







TORNEIO DE PREPARAÇÃO
Prova n.º 4
O ROUBO DA TRÍADE
Original de: DE LA TIERRA (Almada)
  Publicado na secção POLICIÁRIO em: 15.Novembro.1992

Já há dois dias que chovia ininterruptamente. O detective Cecílio, reformado alguns meses antes, radicou-se num país da África Ocidental, o Gana, em plena estação das chuvas. O cheiro agreste daquele ambiente tropical penetrava longamente nas narinas largas desse homem gorducho e rosado que granjeara fama internacional ao longo de uma carreira de muitos anos. Estava sentado no seu quarto de hotel, junto de uma janela cujos vidros escoavam gotas finas e ondulantes de chuva, quando se fez ouvir o ruído estridente do telefone.
- Alô! – exclamou Cecílio.
- Está? Cecílio? Daqui fala Numyai, da Tailândia.
- Oh. Há quanto tempo, hein? Então, que novidades contas dessas paragens?
- Como sabes, tornei-me comissário da Interpol e preciso da tua ajuda…
As nuvens começaram a dissipar-se no céu. Vinha aí bom tempo. Bom prenúncio, pensou Cecílio. Desceu do seu quarto, para as ruas húmidas da cidade.
Munido de um impermeável, Cecílio meteu-se no interior dum táxi.
- Para o aeroporto de Acra, por favor.
Recostado nos bancos gastos do veículo, o velho detective relembrou tudo o que Numyai lhe contara ao telefone. O caso era simples. Um roubo importante tinha sido cometido em Bangkok. O objectivo em causa era um conjunto de três peças unidas representando deuses imemoriais, uma antiga e valiosa tríade religiosa.
Há muitos anos que era guardada numa velha loja de antiguidades, conhecida entre os tailandeses pela grande figura em madeira, dependurada no tecto, de Buda Jejuante, numa área citadina interdita a estrangeiros. Ão havia dúvidas quanto à hora a que o crime fora perpetrado: pouco instantes antes das 9 horas da manhã. Tinha sido um trabalho ultra profissional. Encontraram um canivete junto do cofre arrombado, já com um certo desgaste de dedos no lado direito do cabo, provavelmente o canivete preferido do criminoso, mas não foi possível identificar impressões digitais.
Os suspeitos eram três homens, com passados ligados ao roubo internacional. Eram todos norte-americanos, e conheciam-se-lhes modalidades diferentes. Mahoney era perito em explosivos de baixa densidade; Carlsson adquirira fama nos sistemas digitalizados de alarme e Travis era um conhecido traficante de influências e subornos. Os três homens haviam saído de Bangkok sem que tivesse sido possível contactá-los para as investigações. Por uma feliz coincidência, os três viajaram precisamente para Acra, a capital do Gana. Cecílio tinha sido incumbido de descobrir o que fosse possível para a captura do autor.
 Quando chegou ao amplo salão do aeroporto, já os três homens se dirigiam para a saída de táxis. Haviam chegado às 16 horas. Cecílio dirigiu-se a eles.
- Hello – começou Cecílio – mandaram-me vir buscá-los.
Os três homens franziram a testa.
- Desculpe – replicou – mas deve haver um engano. Acho que nenhum destes senhores me conhece e vice-versa.
Os outros dois anuíram afirmativamente.
- Deve ser esta minha velha e confusa cabeça. – lamentou-se o detective – Oh, agora reparo! – Apontou para um colar que Mahoney ostentava ao peito. – Vejo que tem aí uma bela recordação alusiva a Wat Phra Keo. Aposto que a comprou naquela loja grande, em Bangkok, com o seu grande Siddharta Iluminado no meio do tecto.
Mahoney sorriu.
- Não é Siddharta Iluminado, basta olhar e vê a figura de Siddharta Jejuante.
- É isso, é isso…
- Pode dizer-me onde arranjar um hotel? – questionou Travis.
- Claro. – disse Cecílio, virando-se para ele. – Não quer anotar?
O homem rabiscou num bloco de notas com um lápis seguro na mão esquerda, enquanto o detective ditava uma morada.
- E o senhor, não procura um? – disse para Carlsson. – Tem um ar cansado. Por acaso ouviu falar do roubo da tríade, em Bangkok?~
- Da quê? Não, não sei de nada.
- Aconteceu hoje de manhã Já corre pelos jornais vespertinos do mundo.
- Como poderia eu saber? Para realizar uma viagem de 13 horas, tive de largar de Bangkok antes desse acontecimento, pelas 3 horas da madrugada, para estar aqui a esta hora.
Os três homens despediram-se do detective e seguiram destinos diferentes. Cecílio entrou numa cabine telefónica, discou um número e esperou.
- Está? Numyai? Pois bem, acho que deves vir para cá e trazer mais homens do que o habitual…
-Quem roubou a tríade? - perguntou Numyai – Conta-me como descobriste.

Quer ser você a responder? 

                      
NOTA:
Acompanhando este problema, naquele dia de há 20 ANOS ATRÁS, no «Espaço público» inserido na rubrica «Notícias», o LP “dizia”.
«NA SEQUÊNCIA do ponto 1 da semana passada, naturalmente destinado a levantar polémica, eis uma carta de F. PERLICO, excessivamente longa, mas que tentaremos reproduzir, nos seus pontos fundamentais».
Que me perdoem os dois “polémicos”, mas não ocuparei, por agora, espaço com essas divergências, sempre perniciosas para o “ambiente” onde se instalam. 
É minha ideia, todavia, criar no AHPPP, departamentos destinados a POLÉMICAS, PLÁGIOS, PROBLEMAS PROBLEMÁTICOS, e outros “INSÓLITOS” que possam suscitar interesse.
                                  Jartur  
       
TORNEIO DE PREPARAÇÃO
Solução da prova n.º 4
O ROUBO DA TRÍADE
Apresentada por: DIC ROLAND (Retaxo – Castelo Branco)
   Publicado na secção POLICIÁRIO em: 13.Dezembro.1992

A tríade foi, de facto, roubada pelos três americanos, cada um dos quais seria portador de uma das peças do valioso conjunto.
Os elementos fornecidos, pelo telefone, ao detective Cecílio, e bem assim o diálogo deste mesmo detective com os três suspeitos, no aeroporto de Acra, parecem conduzir a tal conclusão. De facto:
a ) – Começa por ser altamente suspeito que três americanos, supostamente desconhecidos uns dos outros, tenham viajado no mesmo avião e com o mesmo destino (Acra), logo a seguir ao roubo;
b ) – O passado criminoso dos três viajantes caracteriza-se por um conjunto de modalidades de actuação que, no caso vertente, se conjugam e se completam no sentido do êxito da operação de Bangkok; os explosivos de baixa densidade (Mahoney) teriam servido para forçar a abertura do cofre; o sistema de alarme (Carlsson) terá sido previamente avariado; e a entrada na área citadina interdita a estrangeiros teria sido conseguida graças a subornos e tráfico de influências (Travis).
c ) – Ao corrigir o detective, quando este aludiu ao Siddharta iluminado, o suspeito Mahoney revelou que havia estado na loja de antiguidades, em cujo tecto estava pendurada uma imagem de Siddharta Jejuante, em zona interdita a estrangeiros.
d ) – O suspeito Travis, utilizando a mão esquerda para escrever, poderia ser a mesma pessoa que utilizou o canivete encontrado junto do cofre arrombado e em cujo cabo (do lado direito) havia sinais de ser habitualmente manejado por um esquerdino.
e ) – O argumento do suspeito Carlsson para explicar a sua alegada ignorância a respeito do roubo de Bangkok, é claramente falso; tendo em conta a diferença de longitude entre os pontos de partida e de chegada (cerca de 90 graus) e considerando que a viagem demorou treze horas, no sentido Leste-Oeste, o avião não podia ter partido às três horas da madrugada, mas sim por volta das nove da manhã – isto é, depois de perpetrado o roubo; a diferença horária é de menos sete horas (sete fusos horários para Ocidente), o que explica que, tendo o avião chegado às 16h00 de Acra (ou seja 23h00 de Bangkok), a sua partida só poderia ter sido às dez horas locais e não às três da madrugada!
                Cid Roland
               



                            

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