domingo, 25 de agosto de 2013

POLICIÁRIO 1151



ENIGMAS DAS MORTES DE RIJO E DE CALÍGULA, DECIFRADOS!

Damos hoje sequência às nossas competições, revelando as soluções para os problemas policiários propostos pelo confrade Verbatim:

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2013
SOLUÇÕES DA PROVA N.º 6
 PARTE I
“OUVINDO O FLECHA DE PRATA PASSAR”, de VERBATIM

Na resolução deste caso, temos de verificar, em primeiro lugar, se a morte de António Rijo se deveu a suicídio. Vemos que é muito pouco provável que tal tivesse acontecido, porque o disparo foi efectuado a mais de meio metro de distância da têmpora da vítima e também porque Rijo se encontrava com umas fortes luvas de couro calçadas, pouco ou de todo impróprias para accionar o gatilho.
Sem qualquer referência ao estrépito do tiro, temos de inferir que o ruído, além de abafado pelas paredes da loja, também não encontrou pessoa no exterior que o tivesse ouvido.
Analisando as declarações, vemos que o testemunho de Aníbal Ruivo parece contraditório. Primeiro porque às 21h15 já se teria posto o sol, não fazendo muito sentido que, numa aldeia sem luz eléctrica, ele começasse então a consertar uma rede de galinheiro e a seguir saísse a correr, sem iluminação, por um mau caminho. Depois há a referência ao apito agudo do combóio que não conjuga com o apito arrastado assinalado pelo narrador. Finalmente, ele teria chegado à venda com o lojista já morto, talvez em simultâneo com a viúva. É muita coisa duvidosa.
Há porém duas importantes explicações.
Quanto ao pôr-do-sol, deverá notar-se que, em Junho de 1945, a hora de verão estava adiantada120 minutos e não apenas 60. Assim, durante aquele mês, numa latitude como a do Outeiro do Bailador, o sol nunca se terá posto antes das 21h55 nem depois das 22h11. Portanto, às 21h15 era dia. O Sol ainda não se pusera e o ar estava desanuviado. Aníbal Ruivo pode mesmo ter regressado a casa em condições de continuar com o conserto da rede.
No que respeita ao apito dos comboios, será de notar que o silvo de uma locomotiva, em bom andamento, é ouvido de um modo mais agudo ou mais grave conforme a fonte de som caminha para nós ou se afasta de nós. É o efeito de Doppler. Como o Flecha de Prata andava ali relativamente depressa, esse efeito fazia-se sentir. Aníbal Ruivo, estando a uma pequena distância da loja e, portanto, perto da passagem de nível, ouviu o apito agudo relativo a uma aproximação. Já o narrador, um quilómetro a norte da passagem de nível, assinalou o apito arrastado do Flecha que se afastava para Sul.
Aníbal Ruivo não mostrou saber mais sobre a morte de António Rijo do que aquilo que por ali constaria a partir dos gritos da viúva, isto é, que o lojista tinha sido morto com uma pancada na cabeça.
Zeferino Carreira e Maria Perpétua do Souto nada disseram de comprometedor. Esta última, ao atribuir a morte de António Rijo a uma sacholada na cabeça, limitou-se a ligar o que se contava com uma das mais vulgares formas de agressão que conhecia. Ela terá ido à loja pelas 20h00 e Carreira, considerando o tempo necessário para a carroça fazer um quilómetro, terá saído cerca das 19h50. Portanto, estiveram os dois na venda antes de Aníbal Ruivo.
A viúva de António Rijo e a criada são ilibadas pelo narrador. O testemunho cruzado terá ajudado.
Brás Laranjeira é que se denunciou ao falar de suicídio e da arma que a vítima teria usado para se matar porque, em princípio, não deveria saber de uma coisa nem da outra, pois o regedor providenciou no sentido de não ser dado a conhecer mais do aquilo que a viúva entendera e gritara.
Deduz-se que o advogado não se deu ao trabalho de verificar o que sobre a morte de António Rijo corria entre o povo e que confiou demasiado na divulgação da cena que contemplou, ainda com bastante luz, na altura de abandonar a loja. Enganou-se porque a viúva não viu tudo e as autoridades foram discretas.
Resta uma questão por esclarecer: como terá Brás Laranjeira acedido ao revólver de António Rijo? Não o sabemos ao certo, mas é o próprio advogado que nos fornece uma pista e nos faz suspeitar de crime premeditado, quando afirma saber que tinha um revólver parecido com o do lojista. Poderá, portanto, ter congeminado aproximar-se deste último sob o pretexto de fazer uma comparação de armas. Talvez até se tenha munido de umas luvas finas para manusear o revólver, com a descarada desculpa de não o querer manchar. Logo que ficou coma arma de António Rijo na mão, alvejou-o. Simulou, então, um suicídio. Ao fazê-lo esqueceu-se da distância a que disparou e das luvas que a vítima calçara para arrumar o arame farpado.
A acção criminosa poderá ter acontecido depois de Aníbal Ruivo ter deixado a loja, talvez entre as 21h30 e as 21h45, ainda com o Sol acima do horizonte.

PARTE II
A MORTE DE CALÍGULA, de VERBATIM

A resposta correcta é B – Tibério.
Verificamos que qualquer dos quatro amigos podia ter conseguido uma ocasião para estar a sós com Calígula e aproveitar-se da sua embriaguez para o liquidar através de um suposto acidente automóvel. Há contudo dois pormenores que nos levam a desconfiar mais de Tibério do que dos outros três: os pulmões da vítima estavam limpos e Tibério afirmou ter visto Calígula a acenar-lhe do carro pouco antes de embater no muro.
Os pulmões limpos indiciam morte da vítima anterior à incineração. Como o choque do carro contra o muro foi ligeiro, o cinto tinha sido colocado e não se tinham descoberto fracturas no corpo, conclui-se que o embate não terá sido de molde a provocar a morte imediata. Então, Calígula já deveria estar morto quando o automóvel bateu no muro. Nesse caso, Tibério não o poderia ter visto a acenar imediatamente antes do embate. Muito provavelmente foi ele que matou Calígula, tendo encenado uma morte acidental devida a imprudência da própria vítima.



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