[Transcrição da secção n.º 1178 publicada hoje no jornal PÚBLICO]
UM
PROBLEMA POLICIAL COM “PASSARINHOS”
PARA
DECIFRAR.
Como
se costuma dizer, “a pedido de várias famílias”, o prazo para envio das
propostas de solução dos problemas da prova n.º 1 foi alargado em dois dias,
terminando às 24 horas de hoje, dia 2 de Março.
A
concessão de mais um fim-de-semana poderá permitir aos nossos “detectives” mais
algum tempo para ultimarem as suas propostas, preparando-as para a selecção das
melhores 512 que vão passar à eliminatória seguinte da Taça de Portugal.
Entretanto,
seguindo o calendário previamente definido, hoje é dia de ficarmos a conhecer o
problema que integra a parte I da prova n.º 2, de autoria de uma dupla de
confrades, dos mais activos e ao mesmo tempo mais antigos, do Policiário: A. Raposo
& Lena.
Depois
de uma longa carreira “a solo” do confrade A. Raposo, a qualidade manteve-se,
integrando uma dupla de grande sucesso, com a sua companheira de sempre, Lena.
Podemos dizer com toda a propriedade que temos uma dupla decifradora de bons recursos,
produtora de grande qualidade e conviva de excelência!
A
parceria A. Raposo & Lena é bem um símbolo do que é o Policiário, em todas
as suas vertentes e a quem agradecemos a sua renovada intervenção e presença
assídua.
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
PROVA
N.º 2 – PARTE I
“HOJE
HÁ PASSARINHOS…” Original de A. RAPOSO & LENA
Estamos
nos anos 60, na cidade de Lisboa, mais propriamente nos arredores do conhecido
bairro da Picheleira.
Como
peça fundamental de convivência citadina, existe a Cova Funda, uma taberna à
maneira, onde se joga à sueca, se consomem passarinhos fritos, jaquinzinhos e
umas iscas com elas. O vinho, em barril, vem diretamente do produtor, o bom
carrascão, do Cartaxo.
Na
cozinha temos a menina Fatucha, filha do Taberneiro Elias – homem da serra da
Estrela que aterrou na cidade grande e se estabeleceu, faz um tempão.
Fatucha
é o elo de ligação entre a rapaziada que vai ou voltou da guerra colonial.
A
moçoila era cheiinha de carnes, faces rosadas, fartos seios e trato fácil.
A
rapaziada, a rebentar de hormonas, gostava do clima e frequentava a casa.
Naquele
dia, lá estavam eles: o Pinguinhas, o Peida Gadocha, o Malacueco, o Marreco, o Pingarelho
e o Olho Vivo.
Andavam
todos a azucrinar a Fatucha e segundo constava a moça não permitia avanços.
Tempicos,
nessa altura, morava por perto, e fazia parte do grupo. Ao passar à porta da Cova
Funda chegava-lhe os cheiros das iscas cruzado com o perfume barato da Fatucha e,
não resistia, sempre lhe ficou o gosto dos petiscos e de molhar o pãozinho em
prato alheio.
Ficou
fã dos passarinhos fritos, um amor de toda a vida, tal como o seu Benfica.
A
cozinheira (Fatucha) raramente mudava o óleo da frigideira e os jaquinzinhos
perdiam a piada.
Lá
estavam todos. No bairro eram conhecidos como “os seis da vida airada”. Quatro
numa mesa no meio da tasca a jogar à sueca e um ao balcão a fazer companhia a
Tempicos a trincar passarinhos fritos. O resto era a paisagem das pipas, por
detrás do balcão, cujas torneiras ao abrir chiavam como se chorassem o
carrascão a sair, era a zona da estrita responsabilidade de Elias.
Pelo
meio das pipas um estreito corredor levava à cozinha e aos lavabos.
Em
fundo uma ladainha vinha do televisor, apesar de a preto e branco mas já com o
locutor a fazer o relato da bola, aos berros mas que ninguém ligava, pois o
Benfica não jogava naquele dia.
A
Fatucha andava num vaivém, a bandear as grossas coxas, e a levar pratinhos com
jaquinzinhos enfiados em palitos e um ou outro apalpão às escondidas e que ela
invariavelmente respondia com um “teja quieto!”.
A
jogatina a certa altura parou para balanço dos resultados e foi aproveitado por
um jogador para pôr a bexiga em ordem. A natureza inexorável.
Quando
o anafado Zé regressava para a continuação da jogatina, aproxima-se da mesa do
jogo e caiu na cadeira a queixar-se das costas. De facto, alguém, no entretanto
dera-lhe uma bela facada nos rins. O seu parceiro de jogo ficou boquiaberto.
Tempicos,
de costas para a cena, a trincar os passarinhos, empurrados por uns copos de
três, não deu por nada. Nem o companheiro Quim – ambos a petiscar ao balcão -
avançado centro do Penha-de-França que sofria de acentuada escoliose mas era o
melhor marcador de golos de cabeça da equipa. Elias arrepanhou os poucos
cabelos.
Tempicos
naquela época andava a fazer o tirocínio para Inspetor da PJ e avocou o caso,
já naquele tempo lhe atribuíam um olhar perspicaz.
Diziam-lhe
as células cinzentas que a moça tinha um rapaz debaixo de olho e aos outros não
passava “cartolina” e isso criava um ambiente de competição e ciúme no grupo.
Começou a tomar as suas notas num caderninho de capa preta:
“-
O espertalhão do Manel estava a fazer as contas do jogo e não viu nada. Aliás,
tinha ganho a última vasa, mais o seu infortunado parceiro anafado:
-
O pelintra do Tozé estava a ver o jogo de futebol na tv e… nada enxergou.
-
O Zé só se queixava e queria ir para o hospital.
-
O tacanho do Tó estava a olhar a rua e nada viu.
-
O Elias estava a encher copos e não se apercebeu de nada.”
Tempicos,
à socapa, revistou por todo o lado e conseguiu descobrir, escondido num bolso
do avental da Fatucha, um papel com o seguinte texto:
“Espero-te
às nove na esquina da mercearia.”- Pingarelho.
.....
Passaram-se
quase 50 anos e Tempicos voltou ao caderninho preto entretanto guardado.
Recordou o caso e redesenhou a cena e os intérpretes e a pergunta mantinha-se:
-Quem
tem mais hipóteses de ter esfaqueado o Peida Gadocha?
Desenhe
a cena do crime e ponha em todos os actores os nomes e respectivas alcunhas.
E
pronto!
Resta
aos “detectives” seguirem a sugestão dos autores e elaborarem os seus
relatórios, que terão de ser enviados, impreterivelmente até ao próximo dia 31
de Março, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
-
Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
-
Por e-mail para um dos endereços:
-
Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas
deduções!
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