domingo, 1 de junho de 2014

POLICIÁRIO 1191

[Transcrição da secção n.º 1191 publicada hoje no jornal PÚBLICO]


UM NAPOLITANO NA CIDADE DO PORTO


No dia em que se realiza o X Convívio Policiário da Tertúlia da Liberdade, publicamos mais um desafio:

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
PROVA N.º 5 - PARTE I
“INGREDIENTE SECRETO” – Original de BERNIE LECEIRO

Email:
Di: Francesco Bernoulli
Data: 20 maggio 2013
A: Inspettore Alves da Selva
Soggetto:Viaggio a Matosinhos

Ciao Inspettore:
Estou de regresso à minha bela Positano, a vila mais bonita do sul de Itália, mas confesso que gostei muito da visita ao seu país e principalmente da vossa hospitalidade. Pena tive, que o inspector tivesse sido destacado para a América do Sul e dessa forma não nos pudéssemos encontrar para me mostrar a beleza da sua região. Fui por minha conta e risco.
Como é boa a vossa gastronomia! E as cidades? Bonitas, cuidadas e cheias de história.
Fantástica a vossa rede de transportes públicos, principalmente o metro de superfície, confortável, com bastante frequência e a passar pelo meio das cidades.
Como não podia deixar de ser, comecei pelo Mercado de Matosinhos, um belíssimo exemplar da arquitectura moderna, classificado como Monumento de Interesse Público, onde podemos apreciar a qualidade do produto pelo qual Matosinhos já foi considerado o maior porto sardinheiro do mundo, peixe fresquíssimo e os mais variados produtos hortícolas que aqui fariam inveja a qualquer produtor Napolitano. Fantásticas as vendedoras, muito genuínas e sempre prontas a uma graçola.
De seguida fui às festas do Sr. de Matosinhos, uma das maiores romarias do vosso país, com visita obrigatória à igreja com os seus altares magnificamente enfeitados, uma tradição muito antiga desde os tempos em que Matosinhos era a vila que vendia mais flores para o resto do país e a imagem muito antiga de cristo envolta em curiosas lendas sobre a forma como apareceu na praia. Segundo a tradição, a imagem do Senhor de Matosinhos é uma das mais antigas de toda a cristandade. A lenda diz que esta imagem foi esculpida por Nicodemos, que assistiu aos últimos momentos de vida de Jesus, sendo por isso considerada uma cópia fiel do seu rosto. Nicodemos esculpiu mais quatro imagens mas esta é considerada a primeira e a mais perfeita. A imagem é oca porque nela teria Nicodemos escondido os instrumentos da Paixão e, nesses tempos de perseguição, os objectos sagrados eram escondidos ou atirados ao mar para escaparem à fogueira. Nicodemos atirou a imagem ao mar Mediterrâneo, na Judeia, e esta foi levada pelas águas, passou o estreito de Gibraltar e veio dar à praia de Matosinhos, perdendo na viagem um braço. A população de Bouças ergueu-lhe um templo e designou a imagem por Nosso Senhor de Bouças, venerando-a durante 50 anos pelos seus muitos milagres. Mas um dia, andava uma mulher na praia de Matosinhos a apanhar lenha para a sua lareira, quando encontrou um pedaço de madeira que juntou aos restantes. Em casa, lançou-o ao fogo mas este pedaço saltou da lareira não só da primeira, mas como de todas as vezes que ela o tentava queimar. A sua filha, muda de nascença, fazia-lhe gestos desesperados para que dizer qualquer coisa e, por fim, balbuciou, perante o espanto da mãe, que o pedaço de madeira era o braço de Nosso Senhor das Bouças. Assombrada pelo milagre a população verificou que o braço se ajustava tão bem à imagem que parecia que nunca dela se tinha separado. No século XVI, a imagem foi mudada para uma igreja em Matosinhos, construída em sua honra, ficando a ser conhecida por Nosso Senhor de Matosinhos.
Já no Porto junto à Trindade, pude observar a imponência do conjunto arquitectónico da principal avenida da cidade onde me disseram que costumam festejar as conquistas do seu principal clube de futebol, e dizem que tem sido muitos ultimamente.
Ao longo da minha viagem verifiquei que todas as vossas cidades e vilas respiram história dando os nomes dos navegadores às vossas ruas, praças e estações: Gonçalves Zarco, Infante D. Henrique, Gil Eanes, Bartolomeu Dias, etc. O mais heróico terá sido Vasco de Gama. Curiosamente no dia em que estive em Portugal, comemoravam-se 515 anos sobre a sua chegada à Índia.
Uma das lendas mais curiosas que me contaram, e não foram poucas, foi a lendas das Sete Bicas. Junto à capela da Senhora da hora existe uma fonte, “Fonte das Sete Bicas”, que em tempos idos era procurada pelas suas propriedades casamenteiras. Para tal, o rapaz ou rapariga desejoso de, durante o ano seguinte, encontrar o seu parceiro ideal, teria que beber de um só fôlego das sete bicas que a fonte possuía. Hoje a água não é potável, deve ser por isso que cada vez é mais difícil encontrar o parceiro ideal…
 Sabe que em cada país que visito tenho por hábito comprar uma camisola do clube de futebol de que mais gosto. No Brasil trouxe a camisola do Vasco da Gama, de Espanha a do Barcelona, da Holanda a do Ajax… Como tal, não pude deixar de comprar uma camisola do FC Porto. Um pescador de Matosinhos, ainda teve a gentileza de me oferecer uma do Leixões, clube pequeno mas cheio de tradição, com uma massa associativa fervorosa, a lembrar a do clube do meu coração, o Società Sportiva Calcio Napoli!
Outro personagem da vossa história: Brito de Capelo, oficial da Marinha portuguesa e explorador do continente africano durante o último quartel do século XIX. Participou com Roberto Ivens na célebre travessia entre Angola e a costa do Índico. A rua em Matosinhos com o seu nome, outrora a principal da cidade com as suas lojas e serviços municipais, apresenta agora uma imagem triste e abandonada, com lojas de artigos orientais e outras, pura e simplesmente fechadas. Uma solução urgente é necessária, é um péssimo cartão de visita para quem chega de fora como eu, ou través do novo terminal de cruzeiros de Leixões uma jóia da coroa da vossa cidade.
Por fim fui até Francos, topónimo dado em homenagem às colónias francesas existentes no Porto desde o início da Monarquia, onde ficava o meu hotel. O dia já ia longo e o meu voo era cedo, no dia seguinte.
Como sei que o inspector partilha comigo o gosto por um bom enigma e pelas as famosas pizzas napolitanas do mestre piaizollo Mezzero que eu surpreendentemente fui descobrir nesse cantinho ocidental da Europa maravilhoso, deixo-lhe o desafio de descobrir o meu ingrediente preferido usado pelo mestre na confecção das suas pizzas.
Un abbraccio
Il tu amico, Francesco


E pronto.
Resta elaborar uma solução para este enigma e, impreterivelmente até ao próximo dia 30 de Junho, e enviá-la, usando um dos seguintes meios:

- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um dos endereços:
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.

Boas deduções!




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