[Transcrição da secção n.º 1192 publicada hoje no jornal PÚBLICO]
O MENTIROSO DO SUBMARINO U-1277
O nosso confrade e “detective” Bernie Leceiro traz-nos mais um desafio
que transporta o mar e a maresia, sempre tendo como pano de fundo
acontecimentos históricos ou veiculados por uma certa tradição oral de
exaltação de actos de heroísmo.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
PROVA N.º 5 - PARTE II
“O ÚLTIMO MERGULHO DO SUBMARINO U-1277
Original de BERNIE LECEIRO
Numa das suas inúmeras incursões na fantástica biblioteca municipal Florbela
Espanca, onde ocupa os seus dias de inspector aposentado, Alves da Selva
descobriu este curioso tesouro, com exactamente a sua idade, 68 anos!
“Diário de bordo da lancha salva vidas Carvalho Araújo - 4 de Junho de
1945
A uma milha da costa da Praia de Angeiras, foram encontradas balsas de
borracha com cidadãos de nacionalidade alemã supostamente tripulantes do
submarino alemão U-1277, nomeadamente os Srs. Kurt Ernest e Walter Herktroeter,
cabos operadores de rádio, este último expressando-se num Castelhano bastante
razoável fruto da relação amorosa mantida com uma artista de cabaret Galega,
que actuava num botequim da cidade de Hamburgo antes da II grande guerra
estourar e ter que embarcar, tendo-nos relatado o seguinte episódio, que, após
a possível tradução, dá-mos conhecimento à unidade militar do Forte de S. João
da Foz, no Porto:
O submarino alemão U-1277, um u-boat tipo VIIC deixou a base no dia 22
de Abril, sob intenso bombardeamento, para a sua primeira e única patrulha como
submarino de combate, submergindo logo de imediato no Mar do Norte sem poder
emitir qualquer sinal de rádio sob o risco de ser localizado e afundado pelas
forças aliadas. A tripulação apenas recebia informação através do aparelho de
rádio montado no topo do snorkel. Foi dessa forma que receberam a 4 de Maio a
mensagem do Almirante Karl Dönitz, que ordenava a todos os submarinos que se
encontravam no activo a suspenderem todas as acções ofensivas contra os navios
aliados, desarmarem os seus torpedos, emergirem, içarem a bandeira negra e se
entregassem no porto aliado mais próximo, era o início da “Operação Arco-íris”,
e dias mais tarde, a 7 de Maio, a notícia da capitulação da Alemanha. A guerra
terminara.
O comandante não pretendia entregar o submarino aos aliados. Voltar à
base naval de origem, em Kiel, na Alemanha, implicava enfrentar de novo um
longo caminho pejado de navios inimigos e aviões. E uma vez chegados a Kiel,
havia sempre o risco do porto ter caído nas mãos dos soviéticos, sinónimo de
morte certa para qualquer soldado alemão. A Argentina era um dos destinos possíveis,
mas cedo abandonado, pois estava fora de alcance. A cidade de Vigo, no norte de
Espanha, foi então o destino escolhido pelo comandante Stever e aprovado pela
sua tripulação. Mas, devido à confusão das comunicações na altura, receberam a
informações de movimentos comunistas em Espanha, o que os fez abandonar esse
destino. Há 42 dias que o submarino navegava submerso, com o combustível, assim
como os mantimentos, quase no fim. Portugal foi a escolha do comandante e dos
seus homens pelo facto de ser um Pais neutro e se encontrar perto, apesar do
nosso interlocutor preferir arriscar o desembarque em Vigo.
O ponto de encontro combinado pela tripulação em terra seria junto a
dois moinhos na praia de Labruge.
Depois de abandonar a maior parte da sua tripulação e dos seus objectos
pessoais, entre os quais se encontravam Kurt Ernst e Walter Herkstroeter que
nos relataram estes factos, em balsas de borracha a aproximadamente uma milha
de costa ao largo de Angeiras, o comandante Stever rumou para Sudoeste.
Após este relato de Walter, rumamos como indicado para Sudoeste onde a
cerca de 2 milhas e meia de terra encontramos a última balsa com os restantes
cinco elementos em falta da tripulação de um total de 44.
Com a ajuda de Walter, interrogamos o Comandante Stever, que nos
concluiu o relato do afundamento do submarino:
Os torpedos foram desactivados e distribuídos pelo navio quatro homens,
entre os quais o oficial de máquinas Engel, com instruções para o afundar. Foi
abandonado a 2.5 milhas de terra com os quatro tubos lança torpedos da proa, as
válvulas de escape da casa das máquinas, as aberturas de ventilação da câmara
de imersão e a escotilha da torre abertas, de maneira a inundar e inutilizar o
submarino por completo.”
De seguida era apresentada uma lista dos 44 tripulantes recolhidos pela
lancha salva vidas Carvalho Araújo, distribuídos pelas diferentes balsas
encontradas, tendo a última a seguinte constituição:
Para além do já citado Comandante Peter Ehrenreich Stever
A – Imediato Johannes Malwitz
B – Segundo imediato Karl Hermann Stachow
C – Oficial médico Wolfgang Schäuble
D – Oficial de máquinas Ernest Engel
Da lista apresentada, um deles terá revelado identidade e posto errado.
Alves da Selva profundo conhecedor das hierarquias militares, fruto das suas
campanhas militares em Angola aquando da guerra colonial, de imediato deu pelo
gato que supostamente terá escapado ao relator da lancha Carvalho Araújo.
E pronto.
Resta aos nossos “detectives” indicarem a alínea que acham que resolve
o problema e fazerem chegar-nos a sua proposta, impreterivelmente até ao
próximo dia 30 de Junho, usando um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para
Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um
dos endereços:
- Por entrega em mão
ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
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