domingo, 8 de junho de 2014

POLICIÁRIO 1192

[Transcrição da secção n.º 1192 publicada hoje no jornal PÚBLICO]

O MENTIROSO DO SUBMARINO U-1277

O nosso confrade e “detective” Bernie Leceiro traz-nos mais um desafio que transporta o mar e a maresia, sempre tendo como pano de fundo acontecimentos históricos ou veiculados por uma certa tradição oral de exaltação de actos de heroísmo.

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
PROVA N.º 5  -  PARTE II
“O ÚLTIMO MERGULHO DO SUBMARINO U-1277
Original de BERNIE LECEIRO

Numa das suas inúmeras incursões na fantástica biblioteca municipal Florbela Espanca, onde ocupa os seus dias de inspector aposentado, Alves da Selva descobriu este curioso tesouro, com exactamente a sua idade, 68 anos!
 
“Diário de bordo da lancha salva vidas Carvalho Araújo - 4 de Junho de 1945

A uma milha da costa da Praia de Angeiras, foram encontradas balsas de borracha com cidadãos de nacionalidade alemã supostamente tripulantes do submarino alemão U-1277, nomeadamente os Srs. Kurt Ernest e Walter Herktroeter, cabos operadores de rádio, este último expressando-se num Castelhano bastante razoável fruto da relação amorosa mantida com uma artista de cabaret Galega, que actuava num botequim da cidade de Hamburgo antes da II grande guerra estourar e ter que embarcar, tendo-nos relatado o seguinte episódio, que, após a possível tradução, dá-mos conhecimento à unidade militar do Forte de S. João da Foz, no Porto:
 
O submarino alemão U-1277, um u-boat tipo VIIC deixou a base no dia 22 de Abril, sob intenso bombardeamento, para a sua primeira e única patrulha como submarino de combate, submergindo logo de imediato no Mar do Norte sem poder emitir qualquer sinal de rádio sob o risco de ser localizado e afundado pelas forças aliadas. A tripulação apenas recebia informação através do aparelho de rádio montado no topo do snorkel. Foi dessa forma que receberam a 4 de Maio a mensagem do Almirante Karl Dönitz, que ordenava a todos os submarinos que se encontravam no activo a suspenderem todas as acções ofensivas contra os navios aliados, desarmarem os seus torpedos, emergirem, içarem a bandeira negra e se entregassem no porto aliado mais próximo, era o início da “Operação Arco-íris”, e dias mais tarde, a 7 de Maio, a notícia da capitulação da Alemanha. A guerra terminara.
 
O comandante não pretendia entregar o submarino aos aliados. Voltar à base naval de origem, em Kiel, na Alemanha, implicava enfrentar de novo um longo caminho pejado de navios inimigos e aviões. E uma vez chegados a Kiel, havia sempre o risco do porto ter caído nas mãos dos soviéticos, sinónimo de morte certa para qualquer soldado alemão. A Argentina era um dos destinos possíveis, mas cedo abandonado, pois estava fora de alcance. A cidade de Vigo, no norte de Espanha, foi então o destino escolhido pelo comandante Stever e aprovado pela sua tripulação. Mas, devido à confusão das comunicações na altura, receberam a informações de movimentos comunistas em Espanha, o que os fez abandonar esse destino. Há 42 dias que o submarino navegava submerso, com o combustível, assim como os mantimentos, quase no fim. Portugal foi a escolha do comandante e dos seus homens pelo facto de ser um Pais neutro e se encontrar perto, apesar do nosso interlocutor preferir arriscar o desembarque em Vigo.

O ponto de encontro combinado pela tripulação em terra seria junto a dois moinhos na praia de Labruge.
 
Depois de abandonar a maior parte da sua tripulação e dos seus objectos pessoais, entre os quais se encontravam Kurt Ernst e Walter Herkstroeter que nos relataram estes factos, em balsas de borracha a aproximadamente uma milha de costa ao largo de Angeiras, o comandante Stever rumou para Sudoeste.

Após este relato de Walter, rumamos como indicado para Sudoeste onde a cerca de 2 milhas e meia de terra encontramos a última balsa com os restantes cinco elementos em falta da tripulação de um total de 44.

Com a ajuda de Walter, interrogamos o Comandante Stever, que nos concluiu o relato do afundamento do submarino:

Os torpedos foram desactivados e distribuídos pelo navio quatro homens, entre os quais o oficial de máquinas Engel, com instruções para o afundar. Foi abandonado a 2.5 milhas de terra com os quatro tubos lança torpedos da proa, as válvulas de escape da casa das máquinas, as aberturas de ventilação da câmara de imersão e a escotilha da torre abertas, de maneira a inundar e inutilizar o submarino por completo.”

De seguida era apresentada uma lista dos 44 tripulantes recolhidos pela lancha salva vidas Carvalho Araújo, distribuídos pelas diferentes balsas encontradas, tendo a última a seguinte constituição:

Para além do já citado Comandante Peter Ehrenreich Stever
A – Imediato Johannes Malwitz
B – Segundo imediato Karl Hermann Stachow
C – Oficial médico Wolfgang Schäuble
D – Oficial de máquinas Ernest Engel


Da lista apresentada, um deles terá revelado identidade e posto errado. Alves da Selva profundo conhecedor das hierarquias militares, fruto das suas campanhas militares em Angola aquando da guerra colonial, de imediato deu pelo gato que supostamente terá escapado ao relator da lancha Carvalho Araújo.

E pronto.
Resta aos nossos “detectives” indicarem a alínea que acham que resolve o problema e fazerem chegar-nos a sua proposta, impreterivelmente até ao próximo dia 30 de Junho, usando um dos seguintes meios:

- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um dos endereços:
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.

Boas deduções!




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