Solução do problema n.º 1,
UM CASO FÁCIL
Apresentada pelo autor:
«INSPECTOR MAIGRET»
O
Inspector X… ouve os suspeitos e, bom conhecedor daquela espécie de gente,
depressa conclui que não foi qualquer dos dois gatunos o autor do crime porque,
nesse caso, teriam tido o cuidado de inventar um «álibi» e nunca reagiriam
daquela forma atabalhoada; o Inspector mandou detê-los apenas para averiguar,
posteriormente, em que roubalheira, se ocupariam por volta das 17 horas, do dia
anterior.
Joaquim,
o impressor, sente crescer em si a esperança, pois supõe incriminados os outros
dois. E então vem a pergunta sacramental: onde estava ele à hora em que, mais
ou menos, o delito havia ocorrido? Para essa tem ele uma boa resposta, -
praticado o ataque correra ao jornal, onde penetrara sem ser visto, para sair
momentos depois pela porta principal, forjando assim um «alibi».
O
Inspector suspira: as suas suspeitas recaem todas sobre o Afonso; e faz mais
uma pergunta, como que por descargo de consciência, satisfação da rotina. Então
o Joaquim é apanhado de surpresa: como não premeditara o ataque não havia
preparado «alibi» e, assim, obrigado a forjar um qualquer, esquecera aquele
pormenor; um pouco à toa atira a primeira desculpa que lhe ocorre – a limpeza
dos rolos, mas sem se recordar (estava no serviço há pouco tempo) de que nos
grandes matutinos, a limpeza das máquinas de imprimir ou é feita
automaticamente ou é entregue a serventes e nunca aos impressores.
X…
franze a testa: apanhara o culpado que, afinal, não era o Afonso… Olha para
este com o pensamento fixo no outro; e a sua pergunta não encerra já qualquer
significado. O Afonso, contudo, descontrola-se um pouco - sendo parente da
vítima e o último a ser interrogado, receara o pior - mas
isso não tem importância porque o caso estava já resolvido…
«Inspector
MAIGRET»
NOTA DE MEMORIAL:
A divulgação deste trabalho que preserva os problemas e soluções
que participaram no II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA, é um preito de Homenagem Póstuma à memória da concorrente
“Lília Sol”, Maria Josefa Carapinha D’Almeida, da Vidigueira, falecida em 21 de
Janeiro de 2016.
“Mr. Jartur”
2.º Problema
UM CASO SIMPLES
Original de: SHERLOCK AMADOR
Publicado
na revista “FLAMA” # 517 / em 31 de Janeiro de 1958
Chamado
à pressa por via telefónica para investigar certo caso, o representante da autoridade
saiu para a rua. Embuçado no seu coçado sobretudo, gola levantada, mãos nos
bolsos, com o chapéu descaído para a frente - a fim de se resguardar da aragem
fria da manhã o Inspector Arsil penetrou - em passo estugado - na área que dava
acesso à Vivenda Florbela, situada na Avenida do Aeroporto. Sem se dignar
sequer a olhar para o que o rodeava, o apressado Inspector premiu o botão da
campainha da porta onde - como qualquer ermitão - vivia o professor Idalécio.
Aberta
a porta e conduzido ao gabinete do locatário, pelo indivíduo que lhe franqueou
a entrada, o Inspector constatou, após exame superficial, que o professor
falecera devido a um ferimento produzido por uma bala de pistola que o
atingira, à queima-roupa, em pleno coração. A confirmá-lo, lá estavam, na
camisa, os resíduos negros provocados pela deflagração da arma.
A
vítima, que se encontrava ajoelhada e debruçada sobre uma pequena mesa,
colocada debaixo de uma espécie de oratório, apresentava-se sob um aspecto
verdadeiramente trágico. Pela aparência, Arsil atribuiu ao morto, uma idade
entre os 65 e os 70 anos. De figura franzina, não devia possuir mais corpo que
uma criança de catorze a quinze anos.
Do
vestuário que envergava com óptima apresentação, sobressaía o lustro esmerado
dos sapatos, quebrado apenas por algumas manchas de sangue. A camisa, que
estava completamente à vista, continha, no local por onde penetrara a bala, uma
mancha negra rodeada por um halo vermelho que, por sua vez, tingia o tampo da
pequena mesa. Sobre esta, uma automática Browning, calibre 6,35, jazia sob a
espalmada e inerte mão direita do morto.
Terminado
todo este exame, Arsil inspeccionou detalhadamente as restantes dependências.
Apenas no quarto de dormir a sua atenção foi despertada por umas manchas um
tanto viscosas, existentes sobre o tapete, mas, que ao fim, pouco interesse
ligou.
Como
nada mais encontrasse que lhe chamasse a atenção, fez algumas perguntas ao
sujeito que, desde o início das investigações, lhe fazia companhia.
Soube,
assim, que o indivíduo em questão, era um amigo íntimo do falecido, o qual ia
ali várias vezes, para lhe atenuar o isolamento a que se devotara ultimamente o
professor Idalécio. Por isso, naquela manhã, ao renovar essas visitas, deparou
com aquela triste cena.
A
princípio pensou chamar o médico, mas como verificasse que o seu amigo já
estava morto, achou melhor telefonar para a polícia.
Interrogado
em referência à arma, confirmou pertencer à vítima, pois que, mais de uma vez,
vira o professor limpá-la e carregar o tambor com seis balas de aço. Segundo a
sua opinião, a ideia do suicídio devia ter sido provocada pela nostalgia que o
professor sentia, desde que ficara viúvo, havia alguns meses.
Aconchegando
melhor o sobretudo, o Inspector Arsil caminhou para uma das janelas, e quedou-se
contemplando o exterior.
Atrás
de si, a voz grave do seu companheiro, interpelou-o:
-
Parece-me que o senhor Inspector está demasiado obcecado com um caso tão
simples…
Arsil
virou-se lentamente e retorquiu:
-
Ah… sim! Um caso simples! Demasiado simples para ser verdadeiro!
Porquê
esta afirmação do Inspector?
Jarturice II TNPP – 002
Divulgada em 14.Fevereiro.2016
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