sábado, 19 de março de 2016

II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL - PROBLEMA 6

                                                                            
                                                                      
II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA
Problema n.º 6
ELE... O TERROR NEGRO!                       Publicado na revista “FLAMA” # 525 
Original de: M. B. CONSTANTINO           em 28 de Março de 1958

         Não, não estou louca. Ele voltou e há-de voltar sempre… sempre… há-de matar-me…Acreditai-me… eu conto, mas acreditai-me…
         - Vivemos, eu e o meu marido, na nossa quinta de X, a cinco quilómetros da povoação. A casa é isolada, ladeada de laranjais e com um caminho empedrado servindo a estrada principal, ao longo da qual se vêem outras vivendas isoladas. Não temos criados; os trabalhadores ocasionais vão-se com o pôr do sol.
         J., meu marido, vai duas vezes por semana jogar xadrez com H., o vizinho mais próximo, a cerca de 1.500 m ao longo da estrada. Foi num desses dias. O Inverno começara. Uma chuva miudinha chegou com a noite negra, uma noite sem lua… mas meu marido não perde a sua partida; calça as botas altas, põe um impermeável e de chapéu caído sobre os olhos, deixa-me entregue aos meus afazeres… Virá pela noite e eu esperá-lo-ei como sempre.
         Dez horas, onze… olho através da janela a escuridão lá fora, o pio do mocho… sinto um arrepio… volto-me sentindo a presença de alguém. Vou a murmurar:
         - Já voltaste? – Mas fico petrificada. No limiar da porta que se abre silenciosamente, uma figura alta, toda de negro, avança… quero gritar… quero fugir… o homem de negro avança e a sua mão enluvada de negro vem afagar-me o rosto branco; a sua capa lembra as asas de dum morcego enorme… um monstro! O rosto é apenas uma mancha negra… avança mudamente pela casa e eu sinto-me incapaz dum só movimento, os lábios colados de terror… ELE, ele abre um armário, tira uma garrafa de Porto, bebe voltando-me as costas, um largo trago, e estendendo-me o copo acaba derramando o líquido nos meus lábios e no queixo, pousa o copo e a mão negra vem acariciar-me os olhos… silenciosamente caminha para a porta: da sua presença ficarão apenas os ténues pingos de água, no sobrado, que lhe caíram na capa, a garrafa e o copo sobre a mesa… desmaio.
         J. voltou, não me acredita. Limitou-se a sorrir: - «Tu bebeste, querida» - Nenhum indício da passagem d’ELE; os pingos secaram, a garrafa e o copo não tem impressões digitais. Insisto: - «Eu não bebi… não estou louca… não estou… não estou…»
         … E o homem de negro tornou… uma, duas, eu sei lá… sinto que enlouqueço de terror. A porta que eu tranco quando J. sai, volto a abri-la receando que ELE deite fogo à casa… volto a abri-la para ELE entrar e em silêncio repetir os gestos das outras vezes, sem jamais deixar um indício da sua presença… apenas a garrafa e o copo inúteis…
         Fomos ao médico. Grito-lhe o meu horror, suplico, choro a verdade… não estou louca…não quero estar louca, não… não… O médico encolhe os ombros e receita-me um “vin-contre”…  
         Comprámos, a meu rogo, um magnífico e corpulento cão polícia. Sinto que será a minha salvação. J. saiu novamente, depois dumas noites de espreita para «descargo de consciência». E o terror voltou… a porta abriu-se como sempre, o cão rosnou prestes a saltar, mas, acabou por abanar a cauda e deitar-se com o focinho entre as patas dianteiras… fora dominado… Meu Deus, dominado… dominado…
                                                                                                                                                  
 *     *     *     *     *     *
        

Não estou louca! Acreditai-me. Sinto que vou morrer de terror… Aproveito o dia para escrever este relato. ELE retornará logo, eu sei! Vi agora D, a loura e linda filha do parceiro de J. vir convidá-lo em nome do pai para a costumada partida nocturna. Vi J. atirando-lhe, a brincar, um beijo na ponta dos dedos; mas que importa? O terror negro deixa-me incapaz de lutar…
         Oito… nove…dez horas! J. saiu com um olhar de comiseração, depois de me esconder todas as garrafas. Eu não bebo, meu Deus, eu não bebo… Apago a luz. O vidro da janela atulhado de neve, que deixou agora de cair, reflecte a lua ternamente… Tapo-a, procurando a segurança da escuridão… Sinto, mais que vejo, a porta abrir-se… e o medo avança… avança… a luva negra vem tocar-me o rosto… e grito pela primeira vez! Um grito que é um desabafo incontido… Eu não estou louca… não estou louca… posso agora provar a presença do terror negro!
a) – Qual o pormenor que pode provar a presença do terror negro?
b) - Pode dar uma ideia de quem seria ou o que seria o terror negro?

E o Jartur previne:
Como repararam, na data do início, este problema foi publicado no mesmo número da “Flama” em que viera à luz o problema anterior.
   E atenção, não se tentem em ir já ler a solução oficial, que publico abaixo, por mero aproveitamento de paginação.
Raciocinem um pouco, antes de desvendar o mistério.


                Aliás, aceitem o procedimento como uma homenagem ao nosso Mestre, que construiu um problema num interessante conto, ou, antes pelo contrário, um pequeno conto num grande “problema”.






II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA

Solução do problema n.º 6                                  Publicada na revista “FLAMA” # 538 
ELE... O TERROR NEGRO!                                  em 24 de Junho de 1958
Apresentada pelo autor: M. CONSTANTINO

«Não, não estou louca. A neve deixara de cair e eu pude enfim descobrir as pegadas
de um ser humano marcadas na alvura.
            Um ser humano que não passava de meu marido empenhado em levar-me à loucura, talvez mesmo ao suicídio, em troca da atraente D. nossa vizinha.
– Descobri enfim porque o cão polícia: não arremeteu naquele dia - ele conhecia O TERROR NEGRO».                 
                                                                                  M. B. Constantino
                                                                                                                     
      Jarturice II TNPP – 006
      Divulgada em 15.Março.2016


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