sábado, 19 de março de 2016

II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL - PROBLEMA 7

                                                                        
                                                                          
II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA
Problema n.º 7 (SETE)
LUCIFER INTERVEIO NA HISTÓRIA           Publicado na revista “FLAMA” # 530 
Original de: Sete de Espadas              em 02 de Maio de 1958

           
O cadáver do banqueiro, crivado de golpes, estava deitado na alcatifa, como que em posição de sentido. Aos pés, em face deles, uma poltrona, e, ao lado direito, uma mesinha. Sobre ela um montículo de cinza de tabaco, um magnífico charuto meio consumido, e a respectiva ponta. No chão, a cinta do charuto onde se lia a marca «DOUNIA». Nem um mínimo rasto por onde inferir-se a identidade do criminoso.

         Conclusão: - Um crime perfeito!
         Móbil: - Vingança! Actuação de um sádico.  

O assassino, após o crime, e saciada a vingança que inúmeras feridas testemunhavam, instalara-se ante o cadáver sangrento, trincara a ponta dum charuto e fumara-o com volúpia que a contemplação da vítima mais avivava.
 (O facto de não existir cinzeiro explica-se pela interdição médica que impedia o banqueiro de fumar).
Os três suspeitos estavam na minha frente: - Bernard, Flamínio e Lerroux. Todos odiavam o banqueiro. Todos se odiavam entre si. Todos fumavam charuto.
- Ouça, Flamínio – comecei, seguindo um raciocínio súbito e, aparentemente, inoportuno. – Você que era amigo de Bernard, porque se zangou com ele?
Flamínio sorriu: - «Já lá vão 8 dias e como sabe sou um desmemoriado».
- Essa tem graça! – Exclamei. – Ó Bernard, então você não se ri?...
- Desculpe – respondeu com dicção difícil. – Ando, há quatro dias em tratamento no Dr. Lacroix que me extraiu os incisivos. Enquanto não colocar a nova dentadura mal posso falar e muito menos rir-me…
Olhei então para Lerroux que, sempre nervoso, esbugalhava para mim os seus olhos pardos. Era o que mais rancor votava ao banqueiro. Perdia a serenidade ao vê-lo e afirmava que o havia de matar…
… Mas seguindo o meu fio de raciocínio, voltei-me de novo para o Flamínio.
- Homem, você de há uns tempos para cá anda endiabrado. Há 8 dias incompatibilizou-se com o Bernard; dois dias depois saía do gabinete do banqueiro rugindo ameaças; e, ontem à noite agrediu à biqueirada o guarda-nocturno da sua área…
Flamínio respondeu enfadado: - E daqui a pouco agrido-o a você!

Olhei-o com curiosidade: - distinto, feições finas e cruéis, merecia bem o apodo de «Mefistófoles Italiano”… Tinha habilidades fantásticas de faquir… Ao lado dele, Bernard, o capitalista excêntrico, aparentava calma no rosto amarelo de intoxicado. Fumava como uma chaminé. Tinha mesmo encomendado à melhor fábrica da especialidade, uns excelentes charutos para seu uso exclusivo que recatara até dos próprios amigos. Dizia-se que mandara gravar nas cintas o nome duma grácil rapariga que Lerroux havia trazido da Livónia, e que o capitalista tivera artes de seduzir com assíduas visitas ao casal. Com ela vivia há dois anos – e o ódio de Lerroux ao capitalista Bernard era labareda infernal…       
Subitamente, proferi com voz enérgica: - Lerroux, esse amor insensato perdeu-o!
Lerroux exclamou com paixão: - Minha adorável Donnia! – O seu corpo teve um estremecimento e com uma grande cópia de gestos que fizeram lembrar uma jarra, exteriorizava o seu ódio ao traiçoeiro Bernard, quando me ergui num repente: - Você disse Donnia?...
- Sim – respondeu Lerroux. – Ela chamava-se Dounetcka, mas, na intimidade, tratava-se por Donnia.

Tirei do bolso a cinta do charuto e mostrei-a a Bernard: - Então o que eu supunha ser a marca deste “paivante” é o nome da sua beldade?...
- Crime e castigo! – Berrou Lerroux numa exaltação enorme.
Bernard, muito pálido, apenas pôde balbuciar: - Esta só pelo Diabo!...
- Tem razão – acrescentei. – Lúcifer interveio na história… E ainda bem, porque me fez descobrir o assassino.






Pergunta-se:

Quem foi o assassino?

Apresente provas.









Não sabem, caros Amigos…
Como se torna dolorosamente agradável, recordar, nesta minha oficina, gabinete de trabalho que outrora dispunha dum armário cama/basculante, onde por duas ou três vezes o saudoso «Sete de Espadas» pernoitou, nas vésperas de alguns dos famosos convívios realizados no Porto, ou noutras cidades não muito distantes.
         Estas palavras, não se destinam apenas a preencher espaço nesta página.
         Saltam do papel ou do computador, para o espaço que o “Sete”, autor do problema número “Sete”, do II TNPP, ocupa na memória de quantos tiveram o gosto de o conhecer, e decifrar os seus interessantes mistérios.

Considerem, portanto, que este pequeno texto, pretende ser uma grande homenagem ao Homem que mais se entregou à defesa e divulgação do mistério policiário.

      Jarturice II TNPP – 007
      Divulgada em 18.Março.2016


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