domingo, 3 de julho de 2016

POLICIÁRIO 1300

           


ENTRADA NO 25.º ANO DE POLICIÁRIO
COM “TRAGÉDIA FAMILIAR”


Entramos no 25.º ano de publicação ininterrupta do Policiário no PÚBLICO!
Foi a 1 de Julho de 1992 que pela primeira vez nos apresentámos aos leitores do então jovem jornal, iniciando uma série absolutamente fora das melhores previsões, à época. Esta longevidade deve-se, por inteiro, aos nossos leitores e “detectives” que jamais deixaram de comparecer e participar, sempre em crescendo, fazendo a secção que somos hoje. Para todos, o nosso sincero agradecimento.
Durante todo este ano que se vai seguir, iremos falando dos nossos 25 anos, daqueles que nos acompanharam e dos que deixaram de o fazer, por saturação ou motivos de maior força e recordar aqueles que mais desejariam estar connosco fisicamente, sem o poderem fazer…
Procuraremos fazer de cada edição uma festa e um espaço de recordação, para o qual chamamos todos os nossos confrades, “detectives” e leitores, para que ninguém falte nem fique esquecido!
O problema que hoje publicamos tem a autoria de uma dupla que retracta em absoluto aquilo que somos e queremos ser: Decifradores de grande nível; produtores sempre disponíveis e de qualidade reconhecida; convivas de excelência, presentes em todas as iniciativas policiárias; militantes na organização da Tertúlia Policiária da Liberdade. Referimo-nos aos BÚFALOS ASSOCIADOS, a quem saudamos, como representantes de todos e de cada um dos nossos “detectives”, razão única para estarmos aqui.
Muitos parabéns!


CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016

PROVA N.º 6 – PARTE I

“UMA TRAGÉDIA FAMILIAR” – Original de BÚFALOS ASSOCIADOS
             

O inspector Garrett nunca perdera o hábito de, antes de adormecer, reler algumas páginas de um bom romance, num prazenteiro regresso ao passado, o que lhe estimulava recordações, melhores ou menos boas conforme os casos. Naquela noite chegara mais uma vez ao fim do livro e não conseguiu reprimir o gesto de voltar ao início e ler as primeiras palavras que lhe lembravam sempre a tragédia familiar que tantas vezes a sua tia Laurinda comentara com ele: "As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são-no cada uma à sua maneira."
O sucedido remontara aos finais do século dezanove, quando a trisavó Carolina faleceu esmagada por um combóio na estação do Rossio, tragédia que enlutou a família e chegou mesmo a agitar a sociedade lisboeta da época, uma vez que a senhora era basto conhecida e detinha uma importante fortuna, a qual veio a acabar nos bolsos do marido, o trisavô Leopoldo, que também ficou curador da parte que caberia à criança que tinha nascido algum tempo antes. E a tia Laurinda, sempre que contava a história, não reprimia o desespero por o seu bisavô Leopoldo ter esbanjado toda a fortuna, em lautas estúrdias em Paris no seu luxuoso apartamento dos Champs-Élysées, onde reunia a melhor sociedade de Paris. Graças ao gastador bisavô ficou a família na penúria, lamentava-se amiúde a tia Laurinda aos amigos mais chegados.
Tudo aconteceu numa manhã dos primeiros dias de Março de 1900, e durante anos permaneceu a dúvida se teria sido suicídio ou se alguém teria empurrado a senhora para a linha quando da partida do combóio. Essa dúvida era um dos pormenores em que o episódio familiar se afastava do romance. Havia na altura dois suspeitos: o marido e Adérito, um amigo que por vezes era visto na companhia da senhora. O caso chegou aos tribunais, pois não faltaram as acusações contra cada um dos homens, os quais, segundo a boataria popular, teriam razões para o possível crime. A verdade é que corriam vozes por entre a sociedade lisboeta de que a Carolina, à época no esplendor dos seus vinte e sete anos, se teria envolvido, já depois de casada, num "affaire" com o tal Adérito, um jovem oficial de cavalaria, o que dificilmente escapara á bisbilhotice nacional e todos sabiam ser verdade. Isso e a fortuna da senhora levantavam as maiores suspeitas de um crime passional. Mas a verdade é que todos saíram ilibados do julgamento, no qual acabou por concluir-se que tudo não passara de suicídio, por falta de provas contra o Leopoldo, contra o Adérito, ou contra quem quer que fosse. Talvez que, de facto, a Carolina, num acto quase tresloucado, não tenha conseguido resistir ao remorso e ao vexame do adultério, atirando-se para debaixo de um combóio.
Mas mais tarde, de vez em quando, em família, o caso vinha à baila. E não faltavam as suspeitas sobre o Leopoldo, das quais ele se defendia, enquanto foi vivo, calorosa e veementemente. E Garrett ainda se recordava de ter ouvido falar das razões que o seu velho trisavô apontava, sempre que a sua inocência era posta em causa. Que nem sequer estaria em Portugal à data do incidente, já teria partido para Paris, pois não queria perder todos os acontecimentos ligados à Exposição Universal desse ano, principalmente porque por nada deste mundo queria faltar à inauguração da Torre Eiffel. Lembrava-se perfeitamente da data porque foi nesse ano que em Agosto viria a morrer em Paris o Eça de Queiroz. Lembrava-se ainda porque esse ano era bissexto e não mais esquecera ter partido para Paris no dia 29 de Fevereiro. Outra coisa que não esquecera tinha sido o falecimento do poeta António Nobre ocorrido em Março desse ano.
Quanto ao Adérito, foi ilibado por ter conseguido provar que à hora da tragédia, estava muito pacatamente a comer um belo arroz de lampreia numa casa de pasto em Tomar.
    -"O bisavô nunca foi muito dado a falar verdade e o facto de se ter livrado da acusação talvez tenha ficado a dever-se à ineficácia da justiça da época. Mas as dúvidas perduraram." -concluía a Tia Laurinda. 
E o inspector Garrett inquiria os seus alunos, quando lhes contava a história: "Será que ficarão sempre dúvidas sobre o sucedido?
Há certamente coisas a dizer sobre esta tragédia familiar e tudo o que a rodeia.
Quem começa?"




E pronto.
Resta aos nossos “detectives” responderem ao apelo e começarem, dando resposta ao problema, impreterivelmente até ao dia 10 do mês de Agosto (prazo mais alargado, de férias!), para o que poderão usar um dos seguintes meios:

- Pelo Correio: Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por entrega em mão ao orientador, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!

                                                           

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