domingo, 28 de agosto de 2016

POLICIÁRIO 1308




DESMASCARADO QUEM FEZ “VOAR”
A VÉNUS DE MILO…

Ainda em tempo de férias para uma grande parte dos confrades e “detectives”, enquanto há sol e calor e as praias se vão enchendo, na procura de alguma frescura, a nossa competição não faz paragens, porque há metas a alcançar e prazos a cumprir.
Praticamente debelada a crise que nos afectou, motivada pela perda da “pen” que continha quase tudo o que necessitávamos para que a competição decorresse sem sobressaltos, continuamos a lutar contra o tempo para podermos recuperar todos os atrasos e recolocar este campeonato nacional nos eixos.
Entretanto, vamos deixar os nossos “detectives” com a solução que a dupla Búfalos Associados deram ao problema de escolha múltipla que constituiu a parte II da prova n.º 6, não sem antes relembrarmos que os nossos decifradores apenas teriam de indicar a alínea que, no entender de cada um, resolvia o enigma. Os Búfalos entenderam por bem dar uma solução muito completa e exaustiva, que deixamos aos nossos leitores, como comprovante de que um problema de escolha múltipla não é sempre sinónimo de problema linear e simples:

            
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016

SOLUÇÃO DA PROVA N.º 6 – PARTE II

“AS ASAS DA VÉNUS DE MILO” – de BÚFALOS ASSOCIADOS

            A alínea correcta é a C).

            O inspector Garrett começou por suspeitar de todos e até da hipótese de um assaltante desconhecido. O vulto visto a correr, ou a pessoa lendo o jornal dentro do carro, levantavam dúvidas. Mas, posta de parte a ideia de conluio por se ter apurado que os devedores nem sequer se conheciam, concluiu que, se houvesse um mentiroso, aquele que claramente tivesse mentido, era o provável assassino e ladrão. E as dúvidas não tardaram a desvanecer-se. Pelo menos cinco pormenores denunciaram o criminoso:
     1.o - Foi certamente por um telefonema que Raul Beleza chamou o 112 a comunicar o trágico sucedido. Mas então não disse ter deixado o seu telemóvel no escritório da senhora situado no andar de cima? D. Lina não tinha telefone fixo nem telemóvel e o Raul disse que "nem chegou a subir e chamou o 112, tendo tido o cuidado de esperar na rua sem tocar em nada". Decerto tinha consigo o seu próprio telemóvel o qual usou, pois na pacatez daquele beco não haveria qualquer cabina telefónica. Mentiu, portanto.
     2.o - Raul, morador longe de Lisboa, afirmou que saiu pelas 16.45 de volta a casa, e seriam seis horas, já "quase a chegar a casa" (uma hora e um quarto depois), quando resolveu regressar por ter reparado que se esquecera do telemóvel. Mas pelas seis e meia já estava a chamar o 112. A crer no que afirmou, o regresso teria sido demasiado rápido, ou seja, na verdade estava muito mais perto... Mentira, também.
     3.o - Luís disse ter entregado algum dinheiro como amortização, em notas que a senhora guardou debaixo da miniatura da Vénus de Milo. Portanto a estatueta ainda lá estava nessa altura. Mas o Raul, que foi recebido antes, afirmou nem ter reparado na estatueta em cima da secretária, a qual, pesando mais de 7 quilos de ouro, não devia passar despercebida. Mentiu. Claro que a viu e certamente cobiçou.
     4.o - Só lhe foi perguntado, como aos outros, como correra a conversa, logo não tinha motivo para falar da estatueta a não ser que se descaísse, ainda por cima para dizer que não a viu.
     5.o - Como é que Raul pode ter visto pelas costas um vulto a correr na sua frente, portanto para o lado contrário em que vinha, se o pequeno beco mal iluminado não tinha saída e acabava num alto muro? Tudo se passa em Dezembro e àquela hora já está escuro. E ia pra onde correndo em direcção ao muro alto? Nova mentira.
     6.o - Quando diz que "ainda viu um vulto a correr levando algo debaixo do braço", está claramente a tentar sugerir um roubo de que não podia saber a não ser que fosse ele o autor. Note-se que a polícia só depois dos interrogatórios é que constatou o roubo da estatueta.
            Ao contrário do Raul, os depoimentos do Amilcar, do Luis e do Daniel parecem credíveis, descontando a ignorância e a grosseria deste último. Afinal a Vénus de Milo não tinha braços, mas tinha "asas"...  Em face de tudo, Garrett orientou as suas suspeitas para a culpabilidade do RAUL BELEZA. Era quase evidente que ele teria esperado dentro do seu carro perto da casa, lendo um jornal tapando a cara, para não ser reconhecido mais tarde. Podia assim vigiar entradas e saídas. Terá visto a saída do Luis, esperado algum tempo para ver que ninguém mais aparecia, para então bater à porta com a intenção provável de "renegociar a dívida" e fazer "voar" a Vénus de Milo. D. Lina abriu, terão subido ao escritório, onde terá havido uma discussão, acabando na violenta agressão da usurária no alto das escadas talvez com a estatueta como arma, e seguiu-se a queda da senhora por ali abaixo. Consumado o crime inventou uma saída airosa: dizer ter visto um vulto correndo com algo debaixo do braço, ter encontrado a porta escancarada e a senhora já morta. Na sua ingenuidade achava que ninguém suspeitaria de que fosse o próprio criminoso a chamar a polícia. Mas a verdade é que isso o viria a comprometer, pois declarara que não subira a escada, nem tinha consigo o telemóvel. Muito provavelmente a polícia veio a encontrar a estatueta da Vénus de Milo, talvez com sinais de sangue, escondida algures ou dentro do automóvel do Raul. E talvez mais alguma coisa que não lhe pertencia, incluindo as notas que o Luis deixara. E este não terá tido dúvidas em identificar o carro do Raul como sendo o tal estacionado à porta. Era o elemento que faltava para Garrett não ter mais hesitações.
                                                          
                                  

  

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