domingo, 23 de julho de 2017

POLICIÁRIO 1355


EVOCANDO UMA FIGURA IMPAR:
SETE DE ESPADAS

Sempre que falamos de Policiário, a referência ao Sete de Espadas aparece como uma inevitabilidade, tal a sua importância para a divulgação e consolidação deste passatempo exemplar, amplamente reconhecido como um veículo importante para estimular a leitura, a interpretação, a análise, o poder de síntese, o espírito observador e científico.
O Sete de Espadas nasceu no Ribatejo, na vila da Chamusca em 1 de Fevereiro de 1921 e em 12 de Janeiro de 1947 iniciava a sua actividade como orientador de um espaço policiário, no Jornal de Sintra, com o título Mistério e Aventura, que ele mesmo definia, em subtítulo, como uma “secção policial orientada por Sete de Espadas”.
Depois foi um nunca mais acabar, na divulgação da literatura policial e, sobretudo, na vertente da competição policial.
Que me desculpem os confrades mais antigos, aqueles que viveram com ele as aventuras do Clube de Literatura Policial, das secções no Camarada, no Cavaleiro Andante e em tantos locais, mas nós apontamos um marco que nos parece decisivo em toda a História do Policiário: O dia 13 de Março de 1975.
Nesse dia, em todas as papelarias, quiosques, pontos de venda de jornais e revistas, apareceu, apenas, mais um número do “Mundo de Aventuras”, uma revista de histórias aos quadradinhos, editada pela Agência Portuguesa de Revistas, que já vinha dos anos 40 do século XX, mas que trazia algo de novo: As últimas páginas eram identificadas como “Mistério… Policiário” e assinadas por um não menos misterioso “Sete de Espadas”!
Foi, podemos dizê-lo com toda a propriedade, o virar de página de toda uma geração de jovens, muito jovens mesmo, na casa dos 13, 14 anos, que apareceram em enorme explosão, criando um movimento imparável que nos trouxe até aos nossos dias.
O primeiro sinal de que algo se movia, foi a grande afluência à literatura policial, a corrida aos alfarrabistas, a ânsia de ler os clássicos do policial, antes da procura dos modernos escritores. Depois, foi a quantidade de malta nova a tratar-se por nomes escolhidos pelos próprios, que podiam ser de uma personagem dos quadradinhos, de um detective da literatura, de uma abreviatura do próprio nome, de uma invenção pura… Tudo servia para nos identificarmos perante os outros. Poucos sabiam o nome real do confrade que estava à sua frente, nem isso era importante! Poucos sabiam o que faziam os outros na vida profissional, mas também não era necessário! O importante era o facto de estarem todos irmanados no mesmo gosto pela dedução, pelo exercício das “células cinzentas”.
No centro de tudo, a figura simpática de um homem de barbas brancas, cabelo ralo, sorriso aberto e simpático: O Sete de Espadas.
Nos dias dos Convívios, era digno de ser visto o número de pais que chegavam perto do Sete e lhe confiavam os miúdos de 11 ou 12 anos, como se confia a um avô e lhe diziam que eram os próprios miúdos que insistiam em ir e não aceitavam um não como resposta! E o Sete, com a calma e o espírito positivo que sempre teve, lá os tranquilizava, dizendo-lhes que na tribo policiária eles estavam no local certo para crescerem, num são convívio, numa camaradagem exemplar.
Ainda hoje sentimos isso. Mesmo nós, muitos já avós, ainda olhamos para o exemplo do Sete como um aspecto importantíssimo no nosso processo de desenvolvimento. Todos crescemos muito com ele e com o Policiário.
Daí a justeza desta homenagem singela, numa altura em que completamos 25 anos de Policiário no PÚBLICO. É que esta secção, se teve o seu nascimento formal no dia 1 de Julho de 1992, verdadeiramente nasceu muitos anos antes, algures pelo ano de 1975, quando o Inspector Fidalgo encontrou o Sete de Espadas e ficou fascinado com o Mundo que este lhe abriu!
Mais tarde foi o XYZ Magazine, o Clube dos Amigos do XYZ e muitas outras coisas, sempre com a relevância da Amizade e da Camaradagem, suas imagens de marca.
Foi no dia 10 de Dezembro de 2008 que a notícia do seu falecimento correu no seio da imensa família policiária, que assim viu partir o seu principal divulgador, deixando um rasto de pesar entre a imensa legião daqueles que com ele cresceram física e mentalmente.


HOMENAGEM A SETE DE ESPADAS


No dia 28 de Março de 2007, na presença do nosso “mestre” Sete de Espadas numa das suas derradeiras aparições públicas e de um número considerável de convivas, o Inspector Fidalgo fez a sua intervenção, de que extraímos algumas passagens:

“Sete de Espadas, meus caros amigos:

Se há Policiário em Portugal, ainda hoje, a este homem o devemos. E toda esta intervenção se poderia reduzir a uma palavra: Obrigado!
(…) A faceta mais brilhante do Sete de Espadas não se revela no modo como soube orientar os seus espaços – e digo-o hoje como sempre fiz ao assumir a contestação ao modelo por ele seguido no Mundo de Aventuras-, mas sim na enorme capacidade de convívio que sempre soube desenvolver.

(…) Falta-nos a capacidade de comunicação do Sete, que em revistas juvenis e à boleia das histórias em quadradinhos, rapidamente trucidava, em termos de popularidade os desenhos dos artistas, ao ponto de toda a miudagem estar de plantão à porta das papelarias no dia de saída das revistas, para as folhear em busca do Policiário e do Sete de Espadas.
Daí até à organização de Convívios Policiários, foi um pequeno salto, mas era extraordinário verificar o que acontecia nos locais onde o Sete aparecia, com toda a gente a rodear aquele homem de barbas brancas, autêntico “avôzinho” para a malta nova. (…)

O Policiário hoje é outro. Cresceu, tornou-se mais maduro, perdeu a irreverência da miudagem que enchia a galeria do Palladium aos sábados à tarde. Não terá melhorado, nem piorado, tornou-se diferente! Este Policiário que hoje temos é, claramente, o herdeiro daquele que nos foi inculcado por esta figura ímpar do Policiário.
Bem-Haja, Sete de Espadas!” 


1 comentário:

Anónimo disse...

Bem Haja...