domingo, 26 de novembro de 2017

POLICIÁRIO 1373




O EXEMPLO DE CONSTANTINO
E A CRÓNICA FALTA DE PRODUÇÕES


Enquanto decorre ainda o prazo para dar solução ao trabalho mais recente de M. Constantino, saudamos o “mestre” que vem desenvolvendo actividade importante ao longo de muitas décadas, em prol do Policiário, como seu estudioso, sendo autor de muitos ensaios sobre a Literatura Policial e a nossa actividade e um divulgador importante de uma das nossas facetas menos utilizadas, mais concretamente a técnica de investigação, que usa amiúde nos seus problemas.
Possuidor de vastos conhecimentos na área da técnica de investigação criminal e Polícia Científica, M. Constantino vai passando alguns conhecimentos, sobre armas, sobre venenos, etc., tornando os problemas bem mais verosímeis e próximos da realidade criminal que pretende transmitir.
De uma das suas muitas obras, precisamente o “Manual da Enigmística Policiária”, numa edição da Associação Policiária Portuguesa, de 1995, deixamos um dos seus textos mais significativos, sobre aquilo que ele entende ser a relação entre o homem e o apelo pela resolução do enigma:
«O homem encontra no enigmático algo que lhe excita o espírito e lhe motiva a curiosidade.
Posto perante um mistério, todas as faculdades se lhe alertam e, atentas, se debruçam em torno do problema.
Sente prazer íntimo em seguir passo a passo todas as pistas até alcançar o objectivo.
Satisfaz-se ao conseguir rodear as dificuldades, tanto como vencer obstáculos que se apresentam intransponíveis.
E quanto mais a precisão dos factos não se permite que se vislumbre sombra de uma estrada, maior é o apego e o desenvolvimento do cérebro, maior é a satisfação da vitória. (…)”

M. Constantino continua o mesmo, criador de enigmas policiários, trabalhador da mente, desafiador dos leitores, apesar de estar já para além das nove décadas de existência e mais de sete de policiário, prova absoluta de que não há idade limite para imaginar, pensar, desenvolver ideias e colocar os outros a pensar.

Na mente de quem esteve presente na justíssima homenagem que foi prestada ao “mestre” em 17 de Maio de 2015, na sua terra natal, Almeirim, ainda ecoam as suas palavras emocionadas, de agradecimento:
“Obrigado por terem vindo. Sois uma Família que junto à do meu sangue, aqui representada pela minha filha Marília e neta Teresa. Já afirmei em tempos, que uma homenagem não se pede, nem se recusa: agradece-se…
Não serei mal-agradecido, no entanto sempre vos digo, sou tão digno desta homenagem como a maioria dos presentes. Todos lutamos por ficar entre os melhores, por vezes conseguimo-lo. Essas pequenas vitórias não nos tornam o melhor, certamente. Fazer parte do grupo dos melhores, é bastante!
De resto, o troféu maior, o apetecido, está nas amizades conquistadas: Essas sim, engrandecem-nos, sois o exemplo.”

PRODUÇÕES
Após falarmos de um dos maiores cultores e “fabricante” de enigmas policiais, regressamos ao tema da falta de produções, uma “doença crónica” muito nossa! Assegurada, como sempre, a disponibilidade dos produtores mais activos da nossa secção, uma disponibilidade que não nos cansamos de agradecer, a verdade é que necessitamos de “sangue novo”, novos métodos e processos de escrita, novidades, em suma, que evitem uma certa estagnação. É que, após alguns anos de Policiário, com o conhecimento dos autores e dos seus processos, começamos a perceber e antecipar as suas conclusões, quase resolvemos os problemas pelo conhecimento que temos dos seus autores. Claro que é um exagero, mas quer dizer algo.
A nossa actividade baseia-se, em primeira instância, na qualidade dos desafios que temos para propor aos “detectives”. É frustrante chegarmos à conclusão de que um determinado problema não tem a resposta adequada, depois de imenso tempo perdido na sua análise, ou que é anulado após tanto esforço.
Por isso vamos lançando o nosso apelo para que os nossos “detectives” elaborem um desafio, de qualquer dos tipos e o façam com o espírito de propor aos restantes confrades aquilo com que gostariam de ser confrontados. Aquilo que lhes daria prazer resolver.
Um problema passa sempre pelo contar de uma história, por retratar uma cena verosímil, capaz de ter ocorrido em qualquer lugar, que envolva um enigma e a sua resolução. Terminada a exposição dos factos, no exacto momento em que o investigador vai passar à fase de apresentação das conclusões e exibir as provas em que se baseia para apontar o responsável, o produtor interrompe o seu conto e lança os seus desafios. Alguns produtores escolhem o método de fazer algumas perguntas, que querem ver respondidas, outros optam por simplesmente interromperem o texto e aguardarem pelos relatórios. No caso dos de escolha múltipla, o texto termina com as quatro hipóteses de solução, de entre as quais o decifrador terá que escolher uma.

Caríssimos “detectives”, não é aceitável que tenhamos hoje um universo de participantes nos nossos desafios de mais de dois milhares de confrades, que os lêem e estudam, se dão ao trabalho de escreverem as soluções, mas não tenham a curiosidade de testarem os seus dotes de escrita, em desafios postos à consideração e decifração dos restantes confrades.

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